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Atos políticos separaram Canudos, Euclides da Cunha e Monte Santo

Foi por sugestão de um cordelista e também escritor que a terra retratada em Os Sertões foi batizada com o nome de Euclides da Cunha. A iniciativa de José Aras se deu em 1933, quando o município se emancipou de Monte Santo e carregou junto o distrito de Canudos. O feito, porém, só foi oficializado em 1938.

Em 1985, nova divisão política alteraria mais uma vez o mapa da região. Canudos se emancipou de Euclides da Cunha e virou município, para desgosto de defensores da história da região. “Essas divisões retalham a história”, resume o documentarista e coordenador do projeto Os Sertões, Antenor Júnior.

Plano militar

Em 1941, o Exército mandou oficiais recolherem em fóruns, tribunais, delegacias e prefeituras de Bahia e Sergipe documentos para fazer uma obra que superasse Os Sertões como história militar. A nova geração de oficiais da força ignorava críticas do estudante Alvim Martins Horcades e do jornalista Manoel Benício, autor de O Rei dos Jagunços, os primeiros a denunciar degolas e fuzilamentos em Canudos, mas ainda não digeria o livro “vingador” de Euclides da Cunha.

No texto Canudos, para quem escrever a sua história, militares defendem nova obra sobre a guerra. “A campanha de Canudos (…) infelizmente ainda não foi escrita como devia ser”, destaca. “É preciso dizer a verdade: Os Sertões, de Euclides da Cunha, e A Guerra de Canudos, de Macedo Soares, são obras-primas em literatura, porém sem os dados oficiais, como deve ser escrita uma HISTÓRIA MILITAR.”

O projeto perdeu fôlego quando começaram a chegar interrogatórios de prisioneiros guardados em arquivos de órgãos públicos do interior baiano com relatos de crimes de guerra e falhas militares. Nas últimas décadas, a Editora do Exército publicou uma dezena de livros sobre Canudos, mas nenhum teve destaque na imprensa e na academia.

O livro de Euclides também não seria bem visto pela ditadura militar. De 1964 a 1985, a censura foi implacável com peças de teatro inspiradas em Os Sertões e agentes do Serviço Nacional de Informações (SNI) miraram estudiosos, pesquisadores e líderes comunitários que usavam Canudos como fonte. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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