Variedades

Bill Lundberg exibe obras históricas e recentes em São Paulo

“A realidade também é uma ilusão”, diz o artista norte-americano Bill Lundberg. Em um flat no bairro de Pinheiros, próximo da Galeria Jaqueline Martins, onde ele inaugura nesta quarta-feira, 17, a exposição Uma Terminologia na Linha, Lundberg relembra quando apresentou pela primeira vez a videoescultura Morphologies, em 1984. No Museu de Arte de Pittsburgh, um casal observava a obra, feita de imagens com áudio de pessoas dormindo projetadas sobre travesseiros repousados no chão, até que a mulher comentou com o companheiro: “Você não percebe? Ele está sonhando a gente”.

A lembrança parece uma anedota e expressa a sutileza simbólica que há nas criações de Bill Lundberg. Agora, na Galeria Jaqueline Martins, Morphologies – realizado, originalmente, em filme Super-8 e no qual os adormecidos são artistas amigos de Lundberg, como Antoni Muntadas e Alison Knowles – não tem ar algum de trabalho datado. Tanto que Lundberg, aos 73 anos, encara com naturalidade suas experiências com filmes e vídeos desde a década de 1970 – na Inglaterra e nos EUA – e parece nem dar muita importância ao rótulo de “pioneiro da videoarte”.

“Meu trabalho é totalmente baseado no interesse que tenho no modo como as pessoas se relacionam”, define o artista. Outra questão importante sobre sua produção artística, frisa Lundberg, é a “equação entre ilusão e realidade”. Em suas videoesculturas e videoinstalações, por exemplo, a imagem está muitas vezes conjugada com objetos, o que confere algo até de “surrealista” em suas criações.

Em Morphologies, já foi dito, a projeção se dá sobre um travesseiro; e, na galeria paulistana, ainda, Charades (1976) traz imagens de indivíduos em movimento projetadas sobre copos dágua. Já em Stolen Kisses (2008), também na mostra, uma camisa branca pendurada em um cabide instalado na galeria recebe a filmagem do afago de mãos femininas, mas Madeleine (1999) não depende de nenhum artefato – a peça consiste na exibição no chão apenas do registro dos pés de uma mulher que toma banho e conversa com o marido. “Sempre gostei da ilusão do filme como metáfora; da maneira de conectar a ilusão às pessoas reais”, explica o artista, que também exibe seus desenhos em São Paulo.

“Quando conheci o Bill, em Nova York, uma das coisas que mais me fascinou nele foi seu interesse pelo relacionamento. É um assunto que interessa muito mais a uma mulher do que a um homem, e, ainda mais, era os EUA, onde as pessoas são distantes entre si”, afirma a artista brasileira Regina Vater, de 72 anos, casada com Lundberg. Na década de 1970, vivendo na cidade norte-americana, a carioca conheceu o californiano, nascido em Albany, através de um amigo em comum, Antoni Muntadas.

“Ele me disse que eu deveria conhecer uma artista do Brasil porque ela fazia instalações com filmes”, lembra Lundberg. “Quando fui ver sua exposição, o projetor de suas obras estava quebrado e Muntadas falou que eu poderia consertar para ela. Regina me agradeceu e me pediu em casamento”, brinca. Os dois estão juntos desde aquela época. Em 2012, mudaram-se dos EUA, onde Lundberg também consolidou uma importante carreira como professor na Universidade do Texas, para fixar residência em Itaipuaçu, distrito de Maricá, no Rio de Janeiro.

“Meu ambiente mudou drasticamente, agora vivemos no campo”, diz Lundberg. Em 1966, quando decidiu viver em Londres, o artista estava descontente com “a direção que a arte estava tomando nos Estados Unidos”. “A arte era feita para as pessoas ricas e não queria fazer parte daquela situação”. Na Europa, realizou performances e começou a desenvolver trabalhos no campo do filme e do vídeo. Em 1976, foi convidado a se mudar para Nova York para exibir uma obra experimental para a época, Swimmer (feito da projeção sobre o chão de um homem nadando).

De volta aos EUA, Lundberg sobreviveu, no início, de fazer mudanças – mesmo que tenha tido uma individual no Museu Whitney. O artista, que conviveu com Andy Warhol, foi, ainda, representado pela prestigiada Galeria John Gibson, entretanto, Lundberg é totalmente “low profile”. Hoje, em Itaipuaçu, ele se interessa por fazer retratos – está descobrindo as pessoas ao seu redor, como o camponês que filmou tomando um copo dágua para que sua imagem seja projetada dentro de uma moldura como uma pintura. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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