Variedades

Compositor Luiz Tatit apresenta seu novo disco solo em show realizado em SP

Luiz Tatit é essencialmente um homem das palavras. Professor da USP aposentado, mas que ainda dá aulas no programa de pós-graduação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Tatit sempre levou, em paralelo, sua carreira na música – que incluiu sua participação na formação do grupo Rumo nos anos 1970. E, como compositor, ele arquiteta com esmero cada frase, cada estrofe, cada rima. Seu prazer em trabalhar com esse universo acaba de render outro belo disco solo, Palavras e Sonhos, que tem produção de seu filho, Jonas Tatit – e cujo repertório será apresentado nos shows que Luiz Tatit realiza nesta sexta-feira, 26, e neste sábado, 27, na Casa de Francisca, em São Paulo.

Totalmente autoral, o novo álbum equilibra canções somente de sua autoria com as assinadas em parceria. E, mesmo nesses casos da composição em conjunto, ele prefere ficar com a parte da letra. “Fico mais exigente para esse lado da letra, e, normalmente, as melodias já são muito boas. Aliás, tem muita gente que faz melodia boa. O raro é letrista, talvez depende de idade, de vivência. Senão fica uma letra precária”, justifica Tatit.

O título Palavras e Sonhos foi pinçado do nome da faixa que fecha o disco – mas que abre caminho para o conceito do disco, que transita entre a força das palavras e a inspiração ligada aos sonhos. Apesar de o próprio Tatit não acreditar nessa história de que a inspiração faz a canção. “Mas eu gosto disso como tema”, diz. “Acho que uma boa encomenda inspira muito mais do que propriamente uma inspiração interna, essa ideia de baixar inspiração quando você menos espera. Pelo menos, para mim, isso nunca aconteceu.”

No disco, Tatit se reencontra com os antigos parceiros Dante Ozzetti, em Musa da Música, e Zé Miguel Wisnik, em Tristeza do Zé. Essa última, aliás, remete a uma atmosfera rural, em letra e música, na qual Tatit e sua convidada especial Juçara Marçal cantam docemente, em duo, a dor de uma separação e da partida. Com Marcelo Jeneci, ele assina Estrela Cruel. A canção, gravada com o piano e a voz de Jeneci, herdou muito do seu estilo. Ali, é Jeneci puro. “Com ele, já fiz umas quatro ou cinco músicas. Essa que está no disco estava engavetada, porque nós a fizemos há cinco anos. Ele acabou não gravando e me mostrou essa versão mais desacelerada. Ele mostrou ao piano e achei muito bonita”, conta Tatit.

De uma leva mais recente de parcerias, Tatit incluiu Do Meu Jeito, feita com Vanessa Bumagny, e Matusalém, composta com Arthur Nestrovski. Enveredando por temas como envelhecimento e eternidade, Matusalém tem uma levada bem saborosa – e nela chama atenção a sanfona precisa de Danilo Penteado. Até então, Tatit e Nestrovski nunca tinham composto juntos, mas já haviam se encontrado no palco, em um projeto que contava ainda com Wisnik. “Nos bastidores, Nestrovski começou a me mostrar umas músicas e via se eu queria fazer letra, acabei fazendo uma delas.”
No campo das participações, além dos já citados Jeneci e Juçara, Tatit trouxe ainda para seu Palavras e Sonhos as cantoras Lenna Bahule, moçambicana, em Musa da Música, e Ná Ozzetti, que é amiga de longa data de Tatit, em Planeta e Borboleta. “Ná faz no mesmo plano a voz cantada e a voz falada. E, na mesma afinação, usando as mesmas notas, mas você sabe direitinho onde está o canto falado e a fala cantada. Só a Ná sabe fazer isso.”

Feminino

Recorrentes no cancioneiro de Luiz Tatit, as personagens femininas (e fictícias) criadas pelo compositor são retomadas em muitas das novas canções. Passando a obra dele em revista, é possível lembrar de muitas figuras: Sofia, em Haicai, Matilde, em Banzo, Odete, em Olhando a Paisagem, e Vera, em Época de Sonho, só para citar alguns exemplos. Uma curiosidade: essa sequência de canções faz parte do bloco de mulheres do espetáculo Totatiando, em que a cantora Zélia Duncan, sob direção de Regina Braga, homenageia a obra de Tatit.

Agora, no disco Palavras e Sonhos, surgem personagens como Elvira e Palmira, em Mais Útil, Diva, em Diva Silva Reis, e uma série de figuras femininas com nome de flor em Das Flores e Das Dores. “Acácia/Quando a vi na minha infância/Deixei de ser criança/E logo quis namorar”, ele canta no início. Acácia vem seguida por Hortênsia, Tulipa, Begônia, Camélia… Isso sem falar da dobradinha das musas: Musa da Música e Musa Cruza. “Acho que, em todas as canções, a imagem feminina é muito forte”, concorda o compositor.

E continua: “O que eu procuro fazer é falar desses temas também tentando criar personagens às vezes até mais próximos de uma tira de história em quadrinhos, mais esquemático, mais caricatural”. Tatit diz gostar de criar personagens que estão fora dele, que têm uma vida própria, e para os quais cria um caráter também próprio. “Por isso que acho que as caracterizações um pouco esquemáticas ajudam a canção, porque ela é muito breve, dura 3 minutos. Então, você tem de ir logo criar uma relação que fique nítida.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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