Variedades

Universo feminino fica sob debate e emoções em Vermelho Labirinto

Os recentes discursos divulgados nas redes sociais têm confirmado cada vez mais o caráter polarizado da política nacional. E, assim como muitas outras, essa afirmação corre o risco de ser pinçada e utilizada fora de seu contexto e significado. Na web, bastam apenas uns poucos cliques para transformar alguém em um monstro. E, em se falando de monstro, é bom lembrar de um que é sagrado, Nelson Rodrigues, figura controversa do teatro que disse, certa vez: “Para salvar a plateia, é preciso encher o palco de assassinos, adúlteros, insanos e, em suma, de uma rajada de monstros”.

Um trecho dessa frase é relembrado pelo diretor e dramaturgo Pedro Granato, que estreia nesta sexta, 18, Vermelho Labirinto, no Sesc Pinheiros. “Muitos consideram Nelson machista, mas ele foi capaz de discutir sobre a opressão à mulher. O espetáculo, entretanto, vai por um caminho alternativo. Em conversas com as atrizes Anna Zêpa e Rita Grillo, o trio navegou pelas timelines das redes sociais e registrou o ódio que é facilmente propagado pelas palavras.

Na montagem, duas mulheres, uma advogada e uma performer, se encontram de maneira indireta. O marido da advogada é um crítico de arte que vai entrevistar a artista em Veneza. O homem nunca aparece e, aos poucos, como muitas vezes acontece quando se publica um post, surgem discussões sobre o ciúme, o universo das artes e da política. “Percebemos que, nas redes sociais, há sempre a necessidade de rotular”, conta Anna. “Ações como falar ao telefone têm se tornado raras. As pessoas nem sequer estão interessadas em conhecer as razões do outro e fica cada vez mais difícil manter um diálogo”, justifica.

Mesmo sem a presença do homem, um triângulo imaginário se forma e dialoga. “Como uma mesma frase pode ter diversas interpretações, as pessoas passam a viver em um estado de vigilância e de quebra de sigilo, como na rotina política. E esses crimes só ocorrem porque dizem respeito ao humano, coisas do nosso feitio”, conta Granato. “Pensamos em observar esse panorama em um microcosmo”, analisa o diretor.

Uma das discussões relativas ao título da montagem, é o fato de a performer usar só roupas vermelhas. “Imagine o risco de sair assim na rua”, conta Anna, lembrando da manifestação de domingo, 13. Ela integra a companhia As de Fora e, em 2013, interpretou contos do escritor Mia Couto no espetáculo Ninguém no Plural, ao lado da atriz portuguesa Tânia Reis e sob a direção de Rita Grillo.
Granato explica que temas como o aborto também surgiram, já que é um tema urgente para as mulheres. Ainda assim, Anna conta que a nova montagem não tem a intenção de ser uma cartilha feminista e, para Granato, o objetivo é buscar o contraditório, mas sem nunca ceder a ideias limitadoras.

Anna Zêpa é autora de poemas curtos que foram reunidos no livro A Convivência dos Nossos Rastros, lançado no ano passado. Mas, antes de publicá-los, ela preferiu espalhar os textos em cartazes pelos muros da cidade. E, para enfrentar o turbulento mundo de hoje, Anna lembra de um verso seu: “Morro a cada saudade que não mato”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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