Algo do clima em São Paulo levou o quarteto australiano diretamente para Melbourne, cidade do sul da Austrália cujas temperaturas são curiosamente semelhantes. Ali, é possível sofrer com as quatro estações em um só dia. Primavera, verão, outono e inverno, todas espremidas em 24 horas, tão semelhante à capital paulista naquele período de abril de 2011, quando a banda se apresentou pela primeira vez na cidade.
“Temos memórias de coisas bem malucas que fizemos por ali”, diverte-se Benjamin Plant, líder que criou o grupo sozinho, gravando canções no quarto, antes de trazer o restante dos integrantes – Josh Moriarty (guitarra), Aaron Shanahan (programação, sintetizadores e voz) e Daniel Whitechurch (piano e sintetizadores) – para bordo do Miami Horror. “Foi quando vivemos nossos dias de roqueiros de antigamente. É sério, passamos por experiências transformadoras.”
Cinco anos, para uma banda – ou pelo menos para o Miami Horror-, é uma eternidade. Daquela época “louca”, sobre a qual Plant evita dar detalhes, pouco restou. “Eu já não era de beber muito álcool, essas coisas. Mas o restante da banda era mais, digamos, animado”, ele lembra. “Hoje, nós já acalmamos. Alguns nem sequer bebem.”
É o novo Miami Horror que volta a São Paulo. Em 2011, o grupo se apresentou em uma festa patrocinada. Desta vez, eles encabeçam o ótimo MecaPresents, uma espécie de showcase, ou versão miniatura, do Meca Festival, realizado no Rio Grande do Sul. A parte paulistana do evento será realizada na quinta-feira, 31, no Estúdio, casa de Pinheiros, a partir das 22h – o Miami Horror sobe ao palco à 1 hora.
A banda australiana não é a única atração da noite, embora tenha o peso de headliner. A programação tem início às 22h30, com um trio brasileiro que joga no liquidificador experimentos com blues, indie e folk. Depois, às 23h40, é a vez do Oh Wonder, dupla britânica que sabe usar vazios e barulhinhos como o The xx. Ao fim do show do Miami Horror, sobem ao palco a dupla Database, que mostrará sua versão com banda, às 2h20, e o coletivo de DJs Gop Tun encerra a noite.
A vida do Miami Horror começou a mudar justamente dois anos depois do lançamento do disco de estreia, Illumination, um depois da primeira passagem pelo Brasil. O grupo deixou Melbourne e rumou em direção ao sol da costa oeste dos Estados Unidos. Fixaram morada em Los Angeles, onde o estilo de vida local, aos poucos, passou a impregnar a pele dos integrantes tanto quanto a melanina, que deu um pouquinho mais de cor a eles. Desde então, deram início aos trabalhos do segundo álbum. O sucesso do hit Sometimes, lançado ainda antes do álbum de estreia, a nova rotina, as vontades artísticas distintas, a demanda por novas performances ao vivo no sedento mercado norte-americano, empurraram e adiaram o novo trabalho de estúdio do grupo.
Quando All Possible Futures saiu, no ano passado, o Miami Horror não era mais o mesmo. Ou melhor, as altas doses de sintetizadores e teclados, camadas ora psicodélicas, ora relaxantes, mas sempre dançantes, estavam lá. Algo da melancolia que se arriscava em aparecer com mais frequência no primeiro álbum foi clareada. Ainda está lá, em canções como Who Is Gonna Save Us?, (Happy Without You) e Forever Ever?, mas elas foram deixadas para o fim do disco. No início, quem comanda são os riffs e vocais solares como um belo dia californiano. Basta ouvir American Dream e Real Slow, as duas primeiras de All Possible Futures, para ser puxado diretamente para essa good Vibe.
“Eu não poderia concordar mais. O sol, a atmosfera das pessoas, tudo o que acontece aqui em Los Angeles, foi muito importante para a sonoridade que a gente alcançou nesse disco”, explica Plant. “Estamos mais relaxados e isso tudo aparece diretamente nessas canções.”
O fato de Plant ter fundado o projeto paralelo chamado Wunder Wunder, neste longo intervalo entre os dois discos, com mais guitarra e mais psicodelia, limpou suas vontades de soar distante daquilo que marcou o Miami Horror. E ajudou a banda a voltar aos eixos. “Era muita pressão fazer pop do Miami Horror”, ele lembra. “Com esse projeto, pude fazer exatamente o que eu queria naquele momento. Para, depois dele, voltar ao som da banda.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.