Em 2006, o ator e diretor da Broadway Robert Bartley criou um espetáculo teatral que reunia números de musicais consagrados, com o objetivo de levantar recursos para o amparo a pessoas com Aids. Não eram só sucessos enfileirados, mas também uma provocação: atrizes cantavam músicas escritas para atores e vice-versa. Em onze edições, o Broadway Backwards se tornou mais um clássico do teatro novaiorquino, e já levantou mais de US$ 2,4 milhões (R$ 8,8 milhões).
Os diretores João Fonseca e Reiner Tenente foram até lá conhecer o projeto e estão replicando a ideia no Brasil, com repertório de espetáculos brasileiros e norte-americanos. Tudo ao contrário será apresentado nesta quarta-feira, 6, às 20 horas, no Teatro Carlos Gomes, no centro do Rio, com renda revertida para a Sociedade Viva Cazuza. A entidade foi criada por Lucinha Araújo, mãe de Cazuza (1958-1990), para atender a crianças e adolescentes com Aids, doença que o matou.
Como em NY, atores consagrados de musicais (sobre Tim Maia, Cazuza, Cássia Eller e Godspell, todos dirigidos por Fonseca) estão trabalhando sem receber, assim como os profissionais da parte técnica. O teatro foi cedido pela Secretaria Municipal de Cultura. A intenção dos diretores é tornar o evento anual, tal qual o Broadway Backwards.
“O projeto fala de diversidade sexual e este é um bom momento para se falar de tolerância no Brasil. À medida em que a sociedade vai avançando, vão aparecendo também coisas piores”, disse Fonseca, referindo-se a retrocessos no Congresso no tocante aos direitos reivindicados pelo movimento LGBT. “O mais interessante da brincadeira é que, ao cantar, não se muda o gênero, e isso provoca reflexão: a mulher canta como se fosse homem e o homem, como mulher”, ressalta Tenente.
Ele, com os atores Victor Maia e Marcelo Várzea, canta Casamenteira, de Um violinista no telhado, um número de caráter bem feminino; Se você for gay, de Avenida Q, ficou com Amanda Acosta; Let it go, tema da princesa protagonista de Frozen, coube a seis atores homens; ardiloso, O tango do covil dA ópera do malandro é dividido por quatro mulheres; Claudio Lins interpreta Gota dágua. O elenco tem também Soraya Ravenle, Tiago Abravanel, Lucinha Lins, Claudia Netto, Marya Bravo, Lilian Valeska e alunos do Centro de Estudos e Formação e Teatro Musical (CEFTEM).
Tacy de Campos, que vive Cássia Eller há dois anos no teatro, divide com Emilio Dantas, que interpreta Cazuza desde 2013, duas músicas dele (com Frejat), Malandragem e Todo amor que houver nessa vida, um no lugar do outro.
O espetáculo será apresentado apenas nesta quarta-feira, 6. Ainda há ingressos à venda na bilheteria do teatro.