A retomada do Festival de Jazz & Heritage de New Orleans foi de chuva, muita chuva. Ainda pela manhã, trombas dágua tomavam o céu do sudeste da Louisiana amedrontando o público que havia pago até US$ 75 para acompanhar as atrações. A tempestade criou cenas woodstockianas e obrigou os organizadores a suspender alguns shows. Duas horas depois e as máquinas voltaram a funcionar.
Por volta das 16h, New Orleans já tinha de novo seu maior festival de jazz. A cidade que mais produz músicos de sopro (clarinete, saxofone, trombone e trompete) para a grande semente norte-americana ao lado do blues recebe, por sete dias, mais de 500 atrações em 12 palcos diferentes. Cada um é ocupado por uma expressão distinta, em uma lógica que funciona desde 1970, quando o evento foi criado para entrar para o extenso calendário de festivais dos EUA.
As grandes tendas têm os nomes dos ritmos que abrigam. Na tarde de quinta (28), a Blues teve shows de Spencer Bohren, Coren Harris e Bernard Allison. A Jazz & Heritage teve a New Orleans Nightcrawlers Brass Band e, a Gospel, que se torna um culto protestante arrebatador, apresentou Jonatan McReynolds e The Hawkins Family. Dois palcos sustentados por patrocinadores gigantes levam as maiores atrações, o Acura e o Gentilly. A comida típica da Louisiana é vendida em grandes barracas, como o gumbo e o apimentado jambalaya (que no Brasil, teria o nome de arroz carreteiro).
A angústia dos grandes festivas se repete em New Orleans. Em determinado momento, é preciso decidir o que perder e o que ganhar. Na edição de reabertura de quinta, tocavam ao mesmo tempo o supergrupo Tedescki Trucks Band, com participação do guitarrista texano Jimmy Vaughan, o guitarrista Bernard Allison, herdeiro do explosivo Luther Allison, e o roqueiro inglês Elvis Costello, que atrai veneração construída por um repertório vitorioso desde os anos 1970. A reportagem o escolheu.
Elvis Costello se apresentou com o trio The Imposters. Depois de chegar ostentando uma boina lilás com a imagem de Allen Toussaint, o pianista e produtor morto em 2015, que New Orleans elege como uma de suas lendas, Costello voltou aos primórdios. Fez (Whats So Funny bout) Peace, Love and Understanding e pegou uma sequência do disco de 1977, com Watching the Detectives, Mystery Dance e Radio Radio. Com o quinteto de sopros The Crescent City Horns, fez quase metade da apresentação, potencializando uma força que parecia faltar até aquele momento. Costello não mostrou canções como Allisson e Blame on Cain, mas ninguém pediu. O que pode ser um bom sinal para sua performance.