Em A Cor Científica, primeiro módulo da exposição dedicada ao pós-impressionismo pelo CCBB, que será aberta na quarta-feira, dia 4, estão agrupados artistas influenciados pelos estudos do químico Michel Chevreul sobre a técnica de pontos justapostos de cores primárias adotada pelos neoimpressionistas – também conhecida como pontilhismo, que teve em Seurat sua referência máxima e delegava ao espectador a tarefa de reconstruir o olhar do pintor. Van Gogh chegou a Paris justamente quando Seurat promovia a decomposição prismática da cor, passando a usar uma paleta mais viva. Coincidentemente, 1886, ano de seu desembarque, marca também o da última exposição dos impressionistas.
Cézanne, desde 1877, vinha recusando sistematicamente convites para participar de mostras impressionistas, optando por uma metodologia mais sólida da construção da imagem. O metódico Seurat anunciava uma paleta também mais rigorosa – em certo sentido, anti-impressionista – e uma pincelada fragmentada, não desprezando as lições da Academia (Degas o chamava de “tabelião” por seu apego ao desenho rigoroso).
No segundo módulo, o rigor cede lugar ao vulcânico temperamento de Gauguin e à liberdade da escola de Pont-Aven, na Bretanha. Gauguin percebia que a atividade solitária de Cézanne “escondia” um método de trabalho ao qual ele se esforçava para ter acesso. Cézanne considerava Gauguin oportunista e mantinha cautelosa distância do pintor. Seurat, apesar do crédito num sistema codificado de pintura, como Gauguin, não tinha melhor opinião sobre ele. O fato é que Gauguin logo percebeu que teria de se afastar do meio parisiense para criar. Primeiro foi à Bretanha, onde registrou as diferenças culturais e religiosas dos bretões. Em seguida, navegou pelos Mares do Sul em busca das culturas “primitivas”. É essa pintura, impregnada de blocos de cor sólidos como os de Cézanne que o CCBB mostra, ao lado das telas de Émile Bernard, que buscou sua orientação. A arte sintética do último também está no segundo módulo da exposição.
No terceiro módulo, dedicado aos Nabis, estão reunidas telas de Maurice Denis, Vuillard, Maillol e Vallotton, representantes desse grupo de pintores que, em 1890, sob a inspiração de Gauguin, é marcado pelo uso expressivo da cor. Nabis, em hebraico, significa profetas – e é assim que eles se denominaram por julgar que anunciavam uma nova era para a pintura, tendo Denis como o profeta maior, teórico do movimento que defendia a essência espiritual da arte.
Finalmente, no quarto módulo, A Cor em Liberdade, os curadores agruparam artistas que se afastaram dos simbolistas, abrindo caminho para a autonomia da cor, o que, de certo modo, prenuncia o formalismo modernista. Cézanne vai para a Provence, Gauguin vai para o Taiti, e o que sê nesse núcleo derradeiro é o fim das comunidades, como a dos Nabis, e o triunfo da individualidade. Já não há mais disputa entre Gauguin e Seurat pelo protagonismo, pela liderança da vanguarda parisiense. Sérusier, que poderia ser seu substituto, permaneceu na Bretanha em vez de assumir esse papel, o que determinou a extinção dos Nabis. Um extremo desencanto marca, então, a agonia do pós-impressionismo. Tudo tem fim.
O TRIUNFO DA COR: O PÓS-IMPRESSIONISMO. CCBB. R. Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651. 4ª a 2ª, 9h/21h. Grátis. Abertura quarta-feira, 4. Até 7/7
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.