Escritor, tradutor e professor do curso de Língua e Literatura Russa da Universidade de São Paulo (USP), Boris Schnaiderman morreu no início da noite desta quarta-feira, 18, aos 99 anos, em decorrência de uma pneumonia. Ele estava internado no Hospital Samaritano desde a semana passada, depois de fraturar o fêmur.
Boris nasceu em 17 de maio de 1917, em Úman, na Ucrânia, e emigrou da União Soviética com a família em 1924. Chegaram ao Rio em 1925 e escolheram São Paulo para viver.
Schnaiderman foi o grande responsável por difundir a literatura russa no Brasil com suas traduções diretas – antes, o que chegava era traduzido do inglês e do francês – e por formar toda uma geração de tradutores. Foi ele quem criou o curso de língua e literatura russa da USP, em 1963.
Aposentado desde 1979, continuou ligado à universidade e, sobretudo, à tarefa de tradutor. Verteu para o português importantes obras de autores como Dostoievski, Tolstoi, Chekhov, Máximo Gorki, Isaac Babel, Boris Pasternak, Pushkin e Maiakovski.
Em 1941, o russo naturalizado brasileiro se juntou à Força Expedicionária Brasileira e lutou na Segunda Guerra Mundial. Por ter nascido na Ucrânia, ele não teria obrigação de ir para a guerra, mas prestar o serviço militar alimentou sua vontade de combater o nazismo.
Da experiência, nasceram dois livros: o romance Guerra em Surdina (1964) e, mais recentemente, em 2015, o autobiográfico Caderno Italiano (Perspectiva) – o acerto de contas com o passado vivido 70 anos antes. À época do lançamento, ele disse ao Estado: “Levou tempo para superar obstáculos. Havia impedimentos, problemas pessoais. Agora, que muita gente morreu, já não há necessidade de guardar segredo sobre certas coisas”.
Boris Schnaiderman foi um colaborador assíduo do Estado desde o Suplemento Literário. Seu último texto, publicado em 9 de maio, foi sobre o livro 1942 – O Brasil e Sua Guerra Quase Desconhecida, de João Barone.