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Thom Andersen ganha retrospectiva no CCSP

No fim de 2013, o professor, historiador e cineasta Thom Andersen assistiu a uma maratona de Assim Era Hollywood no canal Turner e pensou consigo mesmo que gostaria de fazer algo parecido, “mas mais pessoal”, como confessa numa entrevista por e-mail. Assim começou a nascer Great Moments in the History of Cinema, cujo título ele mudou para The Thoughts Once We Had, Os Pensamentos Que Outrora Tivemos. Uma história do cinema baseada em textos de Gilles Deleuze, mas que em momento algum recorre à escrita – à palavra – do autor francês. Andersen usa seus conceitos, mas não necessariamente os filmes que Deleuze cita para embasar sua teoria. “Não me preocupava se meu filme seria bom ou ruim, mas se era mesmo um filme. Ou seja, se eu havia compreendido e assimilado o pensamento de Deleuze para fazer o que queria.”

O longa de 2015, é um dos filmes que integram a mostra Hollywood e Além – O Cinema Investigativo de Thom Andersen, com curadoria de Aaron Cutler e Mariana Shellard, que começa nesta sexta, 8, no Centro Cultural São Paulo, e prossegue até 17, com a exibição de 18 trabalhos do prestigiado diretor. Andersen, de 73 anos – nasceu em 1943 -, leciona no California Institute of the Arts, em Los Angeles. Virá à cidade entre 12 e 16, participando de um debate com o público na quinta, 14, à noite. Ao longo dos anos, seja como professor ou cineasta, ele tem usado o cinema como ferramenta de estudo e investigação não só de Hollywood, como usina de sonhos, mas também da sociedade dos EUA.

Um de seus clássicos é Los Angeles Plays Itself, algo como Los Angeles por Ela Mesma, sobre a forma como a cidade é representada nos filmes. “A terceira parte, A Cidade como Tema, veio primeiro. Percebi que os melhores filmes sobre Los Angeles vinham das margens (e eram filmes de estudantes). Foram eles que tornaram meu filme possível. O que também percebi é que existe uma consistência ideológica nos filmes de Hollywood sobre Los Angeles.” O documentário de 2003 foi escolhido pela influente revista Cinemascope, Sobre Estética e Política, como um dos dez melhores filmes da década. A mostra vai exibir desde obras antigas, como Um Filme de RocknRoll, codirigido com Malcolm Brodwick, de 1967, até experimentos recentes, envolvendo artistas contemporâneos como Adam R. Levine e Billy Woodberry, que trabalharam com Andersen e compartilham muitos de seus temas, em especial o uso do cinema para resgatar o passado.

Como autor, ele sabe que o que faz o coloca na contracorrente da produção atual do cinema norte-americano. É prático sobre isso – “Qual o sentido de seguir o senso comum, repetindo o que outros já fazem?” O fato de ser um erudito não o preocupa. “Nunca penso no público que pretendo atingir. Acho que todo filme forma seu público.” O que diria para um espectador brasileiro que não conhece seus filmes, de forma a cooptá-lo para a mostra? “Eu gosto desses filmes. Informam e divertem. Às vezes, são didáticos, mas eu gosto do didatismo nos filmes. A gente deveria aprender alguma coisa ao assistir a um documentário.” Sua atividade intelectual o aproximou de artistas conceituais como Jean-Marie Straub e Danièlle Huillet, e Andersen chegou a ser ator para eles (em Comportamento em Classe, de 1984). Apesar de sua admiração por Não Reconciliados, de 1964, o crítico e diretor admite que tem tentado há anos escrever sobre o filme, mas não consegue porque o que quer dizer “é muito complicado”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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