O Bosque Maia está intrinsecamente ligado ao Município de Guarulhos. Tranquilamente, hoje, se constitui na mais importante referência de lazer da cidade. Apesar de serem mais conhecidos, o Aeroporto e o Shopping Internacional, o bosque possui uma ligação umbilical com a história de Guarulhos. Como veremos no texto de hoje, esta ligação chegou a ser ameaçada. Uma parte do parque foi desapropriada e é esta história que vamos contar hoje.
O Parque é uma das poucas áreas verdes situadas em área urbana da cidade de Guarulhos. Na, verdade, a mais significativa. Possui 170 mil metros quadrados de vegetação nativa da Mata Atlântica. Abriga também espécies silvestres de aves. Nos seus milhares de metros abrigam espécies exóticas de vegetação como o pau de óleo, pau jacaré e o jacarandá mimoso, árvores que passam dos 20 metros.
Os limites do Bosque Maia começavam na avenida Papa João XXIII e ia até a Avenida Tiradentes, tendo a lateral da Av. Paulo Fachini como entrada. Área nobre e presente na memória afetuosa dos guarulhenses. Segundo relatos controversos, dizem que na gruta hoje utilizada para manifestações das religiões africanas, os primeiros orixás cultuados ali teriam sido por membros das mais importantes famílias guarulhenses da época que professavam também o Candomblé. Católicos, mas com um pezinho no terreiro.
O parque é lugar de lazer e de atividades físicas, além do "pulmão" da nossa cidade, mas que em 1989 estaria no centro de um intenso debate na câmara municipal. A pretensa alienação de parte do parque para a quitação de dívidas contraídas pela prefeitura.
Naquele ano seria nomeado um interventor pelo governo estadual de Orestes Quércia. Nada mais e nada menos do que Paschoal Thomeu.
Encontrando a prefeitura em um estado financeiro caótico, o interventor tivera a ideia de vender algumas áreas públicas com o intuito de sanar dívidas na forma de amortização. Uma destas áreas era exatamente a esquina entre das avenidas Tiradentes e a Paulo Fachini, uma das pontas do Recanto Municipal das Arvores, o outro nome do Bosque Maia.
No mês de Março daquele ano a discussão chegaria a Câmara Municipal de Guarulhos. A manchete dada pelo jornal (Olho Vivo de 20/03/1989) traz claramente os ânimos dos vereadores para aquela proposta da interventoria: "Projeto de Interventor divide a Câmara Municipal". Segundo a reportagem, "Continua gerando polêmica na Câmara Municipal – merecendo destaque inclusive na imprensa de São Paulo – o projeto de lei 015/89, elaborado pelo interventor estadual que autoriza a venda de duas áreas ambas localizadas na avenida Paulo Fachini, esquina com a avenida Tiradentes."
Vendo o posicionamento dos vereadores da época, chama rapidamente a atenção para como a fauna política de Guarulhos não muda muito e, principalmente, que vivemos outros tempos: quem imaginaria Carlos Roberto, então do PFL (Partido da Frente Liberal), e Carlos Derman, então líder do PT (Partido dos Trabalhadores), estando do mesmo lado. O PT e hoje seu principal adversário político, se postavam contra a propositura de vendas das duas áreas.
Para o PT, nas palavras do seu líder, além da preocupação com os impactos ambientais, havia a necessidade de levar a questão aos movimentos populares e sociais da época. Para Carlos Roberto, deveria se procurar alternativas à venda de áreas públicas para sanar dívidas do município. Ambos também questionavam os termos da dívida contraída. Segundo os jornais da época, o principal credor era o Banco Mercantil de Descontos, mas ninguém sabia quem havia contraído a dívida e a título de qual benefício para a municipalidade.
Finalmente, em 07/04/1989, a câmara rejeitaria a ideia de venda desta área, mesmo com a presença da claque do interventor. Além de Carlão Derman e Carlos Roberto, o presidente da câmara tivera uma participação decisiva na recusa do projeto pela casa dos representantes: Elói Pietá. Mesmo com a maioria votando a favor, o projeto não foi à frente devido à falta de quórum.
Posteriormente, uma parte da área seria vendida e lá se instalaria o Mc Donald's e a locadora de vídeo BlockBuster.