David Bowie lançou o disco Blackstar em uma sexta-feira, 8 de janeiro. Dois dias depois, o inglês estava morto. O álbum era seu testamento e, ao mesmo tempo, seu grito por socorro. Ali, Bowie se despedira da vida, quando estava prestes a se extinguir, como a estrela negra que deu nome ao seu trabalho derradeiro. Donny McCaslin, dono do saxofone energético e impaciente que acompanha os arranjos jazzísticos do 25.º disco de Bowie, acompanhou os momentos finais do encontro entre duas entidades que foram criadas para estar juntas: David Bowie e a música.
McCaslin, que acompanhado da sua banda, o Donny McCaslin Group, se apresenta em São Paulo na quinta, 18, e sexta, 19, sempre às 21h, como atração do festival Jazz na Fábrica, chamou a atenção do marciano do rock (ou do glam, ou do pop, ou da dance music, ou do funk, afinal, difícil era classificar o som de Bowie, músico em transformação por décadas a fio). Era uma apresentação pequena, em um clube mirrado em Nova York chamado 55 Bar, em uma noite do primeiro semestre de 2014. Ali, assistiu, por indicação de Maria Schneider, à performance do quarteto. Saiu sem conversar com ninguém. “Honestamente, não posso ter certeza de que ele estava lá, mas foi o que ele me disse”, conta o músico.
Dez dias depois, McCaslin recebia um e-mail do próprio Bowie convidando-o, e ao baterista Mark Giuliana, a participar das gravações da música Sue (Or in a Season of Crime), lançada em uma coletânea de 2014 chamada Nothing Has Changed. Janeiro de 2015, outro chamado, desta vez Donny e a banda eram convocados para gravar com Bowie o então novo disco dele. “Recebíamos as demos com o esqueleto das músicas que Bowie queria gravadas no estúdio caseiro dele. Às vezes, as letras nem sequer haviam sido encerradas”, relembra. “Então, criava novos arranjos, enviava para o restante da banda e íamos para o estúdio gravar.”
McCaslin sabia que o fim de Bowie estava próximo. E finitute, até mesmo de ícones como ele, e a entrega do músico ao ofício, mesmo tão próximo da morte, encheram-no de vontade de gravar um álbum próprio. Beyond Now, 11.º disco solo, chega às lojas em 14 de outubro e terá duas versões jazzísticas para canções de Bowie, Warszawa, da fase de Berlim de Bowie, gravada em 1977, e A Small Plot of Land, faixa de 1995 – a última, já lançada como single, tem os vocais de Jeff Taylor. “Lembro que ele ficou muito agradecido pela homenagem e alguém na sala falou: Você terá muitas opções para escolher. Todos rimos.”
“Esse disco é completamente inspirado na experiência de gravar com David Bowie”, reconhece McCaslin. O nome do álbum, Beyond Now, também dá título a uma canção do disco e foi tirado de uma canção de Blackstar que não passou pelo corte final. Ao lado de Bowie, McCaslin percebeu que a música não tem limite ou barreira. O combustível principal é o desejo pela criação. “Era inspirador perceber o foco que ele tinha em cada canção”, lembra o músico. “Gostava de ver o espírito do Bowie diante daquelas músicas. Ele era um apaixonado por aquilo tudo. Ter visto ele sorrir ao ouvir as versões finais das músicas que construímos e gravamos juntos foi o maior momento da minha vida”, ele conclui.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.