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Correção: Controvérsia marca início do Festival de Gramado

A nota publicada anteriormente continha incorreções no texto. Diferentemente do que foi informado, a responsabilidade pela classificação indicativa do filme Aquarius é do Ministério da Justiça e não do Ministério da Cultura. Segue a nota corrigida:

Em seu site oficial, o Festival de Gramado destaca uma observação de Fernando Meirelles. “Se olharmos para a história do festival, poderemos saber como foi o nosso Brasil e o nosso cinema nos últimos 40 anos”, diz o diretor de Cidade de Deus. Mais exatamente, 44 anos. Pois a edição que começa nesta sexta-feira, 26, é a de número 44. O Festival de Gramado começou em janeiro de 1973, em pleno verão, com a cidade ornamentada de hortênsias.

Com o tempo, o festival passou para o segundo semestre, no inverno. Pois Gramado é, acima de tudo, uma cidade turística. Vinho, chocolate, fondue, roupas de lã, de couro, lareiras acesas. Tudo isso faz parte do cenário e, se Meirelles está certo – Gramado reflete a história do Brasil e seu cinema -, nem sempre a convivência foi tranquila.

Ao longo de sua história, o festival foi muitas vezes acusado de privilegiar o tapete vermelho e até de contemporizar, evitando confrontos com a censura do regime militar. É meia-verdade. Gramado sediou debates memoráveis – a nudez frontal de Walmor Chagas em Um Homem Célebre; os Kikitos de filme e montagem para Pra Frente Brasil, de Roberto Farias, com as cenas de tortura e a marchinha da Copa de 1970 embalando as imagens; o repúdio à extinção da Embrafilme expresso no curta manifesto Pornografia, de Murilo Salles e Suzana Werneck, com o casal fazendo sexo e o Hino Nacional do fundo etc. A própria 44ª edição, que ainda nem começou, tem sido marcada pela controvérsia. Gramado, em 2016, abre-se com a apresentação, hors concours, de Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, e a atribuição do troféu Oscarito a Sonia Braga. Ela já ganhou duas vezes o Kikito, troféu criado pela artista Elisabeth Rosenfeld e que representa o deus sol – em 1981, foi melhor atriz por seu papel em Eu Te Amo, de Arnaldo Jabor, e em 2001, 20 anos mais tarde, como melhor coadjuvante por Memórias Póstumas, de André Klotzel.

Tem havido réplica e tréplica por causa da exibição fora de concurso – Kleber estaria com medo de submeter seu filme ao júri, proclamam seus detratores. Esta semana, e embasado num parecer técnico, o Ministério da Justiça decretou a impropriedade do filme até 18 anos, e pode ser um golpe para as pretensões comerciais de Aquarius na bilheteria. Soou como represália pelo fato de a equipe ter feito aquele protesto na escadaria do Festival de Cannes, em maio, denunciando – era o teor dos cartazes – “o golpe em curso no Brasil”. A repercussão foi imediata nas redes sociais.

No Brasil polarizado pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, Sonia foi chamada até de “vagabunda”, o que não havia sido na época de Dona Flor, a que tinha dois maridos, nem A Dama do Lotação. O festival ocorre agora no quadro do julgamento de Dilma no Senado. Que a noite de Gramado seja leve, até porque Sonia, ícone do cinema brasileiro, merece a homenagem. Chico Buarque e Caetano Veloso ajudaram a imortalizar essa mulher, criando as músicas (O Que Será?) de Dona Flor e da Dama (Todo Dia/Toda Hora). Sonia dá entrevista coletiva no sábado, 27. E volta para Nova York, onde Aquarius será exibido no festival da cidade.

Outras homenagens – José Mojica Marins vai receber o Troféu Eduardo Abelim; Tony Ramos, o Troféu Cidade de Gramado e Cecilia Roth fará história como primeira mulher vencedora do Kikito de Cristal, para uma grande personalidade do cinema latino. As mostras principais são duas – cinema brasileiro e latino-americano. Os longas nacionais candidatos aos Kikitos são: Barata Ribeiro, 716, de Domingos de Oliveira; El Mate, de Bruno Knott; Elis, de Hugo Prata; O Roubo da Taça, de Caio Ortiz; O Silêncio do Céu, de Marco Dutra; Tamo Junto, de Matheus Souza. Os estrangeiros (latinos): Guarani, de Luis Zorraquín, Paraguai/Argentina; Campana Antiargentina, de Ale Paryusow, Argentina; Carga Sellada, de Julia Vargas, Bolívia/México/Venezuela; Espejuelos Oscuros, de Jessica Rodrigues, Cuba; Esteros, de Papu Curotto, Argentina/Brasil; Sin Norte, de Fernando Lavsanderos, Chile; e Las Tonminhas Van al Leste, de Gonzalo Delgado e Verónica Perrotta, Uruguai/Argentina. A seleção foi feita pelos críticos Rubens Ewald Filho e Marcos Santuário, do Brasil, e Eva Piwowarski, da Argentina.

Destaques

Barata Ribeiro, 716
Domingos de Oliveira volta-se para a própria juventude, no Rio dos anos 1960.

Elis
Elis Regina vai renascer na cinebiografia de Hugo Prata.

Silêncio do Céu
Marco Dutra, talento jovem, e a violência contra a mulher. Marido e mulher agem como se ela não tivesse sido violada por estranhos.

Guaraní
Luis Zorraquin e a potência do cinema paraguaio. Pai tenta convencer filha a voltar ao país para dar à luz.

Espejuelos Oscuros
A cubana Jessica Rodrigues tem sido comparada a Fritz Lang e a Hou Hsiao-hsien. Não é pouco, e o filme dela tem uma narradora e um serial killer como protagonistas.

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