Incerteza nas eleições americanas, ataques terroristas, transformações climáticas, revoluções online. O clima de instabilidade do mundo se refletiu nas passarelas da Semana de Moda de Nova York, que começou no dia 7 e terminou na última quinta, 15, com apresentações que apontaram caminhos distintos para a moda. Entre os principais estilistas, houve quem apostasse em desfiles espetaculares, altamente instagramáveis, com coleções colocadas à venda no ato; e houve quem preferisse o trajeto habitual, com um show menor, focado em peças que chegarão às lojas só daqui a seis meses, para o verão de 2017 no Hemisfério Norte.
No primeiro time, o dos conectados e exibidos, estão dois veteranos da indústria: Tommy Hilfiger e Ralph Lauren. O primeiro montou um parque de diversões no Píer 16, no sul de Manhattan, com direito a roda-gigante e barraquinhas de jogos e de clássicos do fast-food (donuts, hot-dog, hambúrguer, batata frita). Tudo para mostrar sua coleção em parceria com a modelo Gigi Hadid, um fenômeno das redes sociais, que só no Instagram conta com 22,5 milhões de seguidores. Em uma passarela iluminada por cordões de lâmpadas, Gigi e companhia desfilaram ao som de Rihanna com looks de inspiração náutica, militar e esportiva.
A primeira fila estava dominada por influenciadoras digitais (novo nome da moda que designa quem faz muito barulho nas redes), além de famosos cheios de seguidores como a cantora Taylor Swift (90,7 milhões no Instagram). Depois do show, os presentes já podiam comprar as jaquetas varsity de náilon, os jeans altos e os moletons desfilados – e as roupas chegaram às lojas da marca no dia seguinte. “É incrível depois de 35 anos de mercado poder fazer algo assim, inovador e disruptivo”, afirma o estilista.
Ralph Lauren seguiu uma fórmula parecida para fazer barulho e vender no ato. Digamos que com uma dose maior de sofisticação. Na ativa há quase cinco décadas, o estilista nova-iorquino também optou por disponibilizar todas as peças de sua linha imediatamente após o desfile. Para isso, montou uma estrutura de vidro em frente à loja da grife na Madison Avenue e fechou duas pistas de um trecho da via para receber seus convidados (Julianne Moore entre eles). Com referências à tribo indígena navajo, os looks foram do western literal, com franjas, estampas e acessórios étnicos, a sofisticados vestidos de noite.
O estilista preferiu não definir uma estação para a coleção, batizando-a apenas de “September Collection”. De modo geral, houve uma confusão climática na temporada, que oficialmente era de verão 2017. Algumas grifes, como a Thakoon, apresentaram peças invernais já para este outono/inverno americano – pobres das modelos, que desfilaram ao ar livre com sobreposições e casacões de lã em um calor de 40º C. Já Tory Burch, a preferida das mulheres ricas do Upper East Side, fez looks estampados, bem de verão, tendo como inspiração a costa dos Estados Unidos (dos Hamptons à Califórnia). Gênio da moda comercial, Michael Kors preferiu o meio-termo. “Minha cliente quer uma roupa que pode ser usada agora, no outono e no próximo verão”, conta.
Embalada por música ao vivo do cantor Rufus Wainwright, a apresentação do designer teve clima romântico para “passar uma mensagem otimista em um mundo que anda complicado”. Doze das peças desfiladas já estão nas prateleiras. À frente da francesa Lacoste, o português Felipe Oliveira Baptista mostrou uma série confortável e vibrante, segundo ele, “uma resposta ao clima duro em Paris após os atentados”. As roupas chegam às vitrines somente no ano que vem. “Por enquanto, cada marca tem que fazer o melhor para si”, diz Baptista. “Estamos em um período de transição, mas acredito que chegará o momento em que todas entrarão em um consenso.” É esperar as incertezas passarem para ver.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.