“Você pode me chamar de David”, diz David Coverdale, do outro lado da linha, após ouvir o primeiro “Senhor Coverdale.” Instituição do classic rock, o vocalista do Whitesnake – 43 deles dedicados à música, quando ele ingressou no Deep Purple – sabe como jogar o jogo da indústria fonográfica. Simpático ao telefone, ele elogia o público brasileiro na primeira oportunidade que encontra. Diz sentir falta dos fãs do País e lamenta o fato de não ter conseguido trazer a turnê anterior dele, na qual reinterpretava clássicos do Deep Purple.
De volta a São Paulo, dois anos depois da passagem mais recente por aqui, com shows marcados para esta quinta, 22, e sexta, 23, ele traz uma turnê só com os grandes hits do Whitesnake, banda fundada por ele depois da saída do Purple. E comemora o fato de a primeira apresentação coincidir com o seu aniversário de 65 anos. “Vamos comemorar juntos”, anuncia Coverdale. Ou melhor, David.
Essa turnê com a qual você e o Whitesnake chegam ao Brasil se chama Greatest Hits World Tour. Há algo mais que devemos saber a respeito dela que já não esteja no título?
Acho que vocês podem esperar um show incrível. As apresentações até agora estão indo muito bem. Só gostaria de lamentar o fato de que não fui capaz de levar a turnê anterior, com as músicas do Deep Purple. De qualquer forma, estou bastante animado com esse show que estamos fazendo.
E por que fazer uma turnê com os greatest hits após uma outra na qual vocês também revisitavam canções antigas?
Quando terminamos a turnê do The Purple Album (de 2015), que era esse disco de canções do Deep Purple que eu havia feito há 40 anos, estávamos muito animados para continuar em turnê. Pensamos no que poderíamos fazer depois. Alguém sugeriu: E se fizéssemos algo com os hits?. E, curiosamente, nunca havíamos feito algo nesse formato. E, para a gente, isso poderia ser divertido. Muitas dessas músicas eu não canto há muito tempo. Vários integrantes do Whitesnake, como Tommy Aldridge (bateria), Joel Hoekstra (guitarra) e Michele Luppi (teclado), nunca tocaram essas canções também. E a resposta dos fãs tem sido ótima.
Certa vez, em uma entrevista com Joe Perry, do Aerosmith, ele disse que não via mais sentido em lançar novos discos e novas músicas, porque os fãs queriam sempre as mesmas canções, sempre os hits, nunca as músicas novas. Como você lida com isso no Whitesnake?
Sou muito amigo do Joe e entendo o que ele quer dizer com isso. Ao mesmo tempo, sei que é importante para os fãs de Whitesnake e para a banda que a gente continue a ser relevante. Não em termos de sucesso em venda de discos, porque os tempos são outros. Já fizemos discos que venderam milhões de cópias ao redor do mundo. Tenho orgulho das músicas que fiz nos discos recentes (Good to Be Bad, de 2008, e Forevermore, de 2011). Algumas delas estão entre as minhas favoritas de todos os tempos. Trabalhamos muito duro em sermos criativos. Como artista, sou movido a novidade. Nesta turnê, ter músicos diferentes tocando essas músicas antigas muda as coisas. É como continuar morando na mesma casa, mas pintar as paredes.
Entendo essa necessidade artística, mas imagino que nas apresentações as coisas possam ser um pouco diferentes, não?
Olha, não consigo falar nada que seja mais chato em um show do que quando o vocalista anuncia: “Essa é uma canção do nosso novo disco” (risos). Sei que as pessoas detestam esse momento. Mas, no Brasil, as pessoas cantaram comigo canções do Forevermore. Vocês estavam cantando essas músicas como se elas fossem novas.
É até fácil de entender que o consumo de música hoje, com a música digital, seja diferente de quando os discos clássicos do Whitesnake saíram. A relação das pessoas com as músicas muda também.
Exatamente! É ir contra a natureza não mudar também. A única coisa que não mudou é a ganância das gravadoras. É isso que as quebrou. Por isso, sinto-me muito feliz em ser um artista independente. Nenhum filho da p… pode me dizer o que fazer!
WHITESNAKE
Citibank Hall. Av. das Nações Unidas, 17955, Santo Amaro.
Quinta-feira, às 21h30, e sexta-feira, às 22h. R$ 100 a R$ 600.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.