Variedades

Clemente e Marcelo Rubens Paiva lançam livro sobre punk

A cadeira de rodas de Marcelo Rubens Paiva, de 57 anos, balançava de um lado para o outro num ritmo, até então, frenético, pulsante e intenso. Pela primeira vez em mais de dois anos, o “cadeirante doidão”, como ficou conhecido pelos colegas que frequentavam os shows de punk rock na capital paulista, na década de 1980, tinha voltado a sorrir sem restrições. Sentia-se feliz. No salão beta da PUC-SP, em 1982, acordes rápidos, letras duras e gritos ensurdecedores de um hino daquela geração perdida: Pânico em SP, pânico em SP, pa-ni-cô em esse pê.

Clemente, baixista da banda Inocentes, pioneira do punk rock paulistano, conduzia a massa. Marcelo flutuava. Saía do chão, ainda que aquilo, cientificamente, não fosse possível. Ele havia deixado o hospital há alguns meses. Acostumava-se, dia após dia, com a ideia de que passaria a vida inteira em uma cadeira de rodas. Ficou tetraplégico aos 20 anos, no auge, depois de mergulhar em um lago, bater a cabeça em uma pedra e quebrar a quinta vértebra cervical. “Eu me sentia bem no meio de todos aqueles punks. De alguma forma, eles me acolheram, me recrutaram. Cuidaram de mim. Voltei a me sentir vivo depois de muito tempo”, afirma o jornalista, dramaturgo, colunista do Estado e autor de Meninos em Fúria (Alfaguara), que acaba de chegar às livrarias de todo o País.

O livro relata, sob a percepção de Clemente, dos Inocentes, como o movimento punk explodiu em São Paulo, tendo a história de Marcelo Rubens Paiva correlacionando os fatos. “Encontrei o Clemente na Avenida Paulista em um dia corriqueiro da semana. Ele disse que tinha algumas coisas escritas justamente sobre este tema. Eu me ofereci para escrever um livro. Depois pensei melhor e achei que seria legal me incluir na própria história, pois vivenciei vários momentos ao lado deste cara (Clemente). Vi tudo aquilo acontecendo. É uma coisa meio Emmanuel Carrère (escritor francês). Li muitas biografias. Não queria fazer uma só do Clemente, embora ele seja o tema principal do livro. Os Inocentes são fenômenos culturais, o punk também, claro”, conclui ele.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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