Tony e Georgio, Georgio e Tony. Tony é Emmanuelle Bercot, Georgio, Vincent Cassel. De cara, ela muda de cidade porque sofreu um ferimento no joelho e precisa se submeter a um longo tratamento para tentar voltar a caminhar normalmente. Mas o ferimento físico é só parte do problema de Tony. A dor maior é interna. Ela ainda junta os cacos após seu rompimento com Georgio, pai de seu filho. Ele é narcisista – um rei -, manipulador. E no final em aberto, depois de idas e vindas, o espectador não tem muita certeza de que eles estejam voltando, ou de que Tony esteja curada.
Já no seu filme sobre uma brigada que atende a ocorrências com crianças (Polisse/Políssia), Maïwenn criava esse tipo de cinema à flor da pele. Cenas como psicodramas. Fortes, gritadas, intensas. Mais, mais, mais. Não é para todos os gostos, mas há sinceridade nessa opção que é tanto ética quanto estética. Maïwenn, irmã da atriz Isild Le Besco, ama os personagens sofridos, fragilizados. Gente sofredora. Os policiais têm problemas para separar vida afetiva e profissional. Tem uma que ingressa numa viagem sem volta e se mata.
Pode-se até pensar que isso vai se repetir com Tony. Folle damour, de passion. Louca de amor e de paixão. Maïwenn cria esses diálogos como você nunca viu num filme de homem, mesmo de mulher. Georgio e Tony discutem se ela tem a vagina larga. Como? Todas as coisas são ditas. Não há muito espaço para mal-entendidos, ou silêncios. Ou então tudo é mal-entendido, porque ao falar muito não se diz muita coisa. O silêncio torna-se incômodo. É um cinema visceral.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.