Variedades

As vozes milenares do Dakhabrakha

Dar e receber, Dakhabrakha. O significado do nome desse quarteto ucraniano retrata com precisão o que se passa em shows que eles fazem por festivais de música étnica no mundo. É mesmo uma experiência. Há susto, estranhamento, paixão, entrega. Um homem e três mulheres ex-alunos do Teatro de Arte Contemporânea de Kiev que oferecem uma tradição vocal arrebatadora, combinada com instrumentos de outras culturas e arranjos de postura rock and roll.

O grupo será trazido pela primeira vez ao Brasil pelo festival de música instrumental Mimo. Seus shows serão neste sábado, às 21h30, na Casa da Ópera de Ouro Preto (MG), e no dia 14 de outubro, às 22h, em Paraty (RJ). Se fosse apenas para vê-los, a viagem já estaria paga. Mas o festival tem mais atrações do mundo espalhadas em praças públicas e igrejas dessas cidades. Artistas que raramente voltarão ao País e que certamente não viriam se não fosse o olhar de uma curadoria que pensa fora dos padrões de produção de outros festivais.

O Dakhabrakha, há 12 anos na estrada, está em turnê internacional. Iryna, Nina, Olena e Marko Halanevych vão mostrar aqui o mesmo show que já fizeram nos EUA, Canadá, Rússia, França, Inglaterra, Suécia, Alemanha, Áustria e Nova Zelândia. O cantor, percussionista e bandoneonista Halanevych explica melhor como funciona o aparentemente intrincado pensamento musical do grupo. “Nos baseamos na tradição de canto polifônico ucraniano de nossos ancestrais.” As vozes femininas, de timbre tão marcante e intervalos inusuais no Ocidente, é uma tradição forte em todo o Leste Europeu. Na Ucrânia, quem canta são as mulheres.

As amigas Iryna, Nina e Olena gostavam de cantar assim desde criança. Quando foram estudar etnomusicologia na Universidade de Kiev, elas foram convidadas para algumas aulas no teatro DAKH. Conheceram então o quarto elemento do futuro Dakha, Halanevych. As primeiras músicas que criaram foram como trilhas para performances de teatro. “Foi assim que o Dakha nasceu”, lembra Marko.

Pesquisa pelo mundo

Alguns cantos que o grupo usa no repertório são milenares. “Usamos canções de Natal, mas muitas outras da era pré-cristã, como os kupala (referentes ao feriado pagão do solstício de verão).” Halanevych gosta de falar das experiências que fazem com instrumentos de diferentes partes do mundo. “Você pode ouvir em nossos ritmos desde os tambores taiko japoneses até as percussões africanas e árabes, passando pelo cajón latino e o didjeridu australiano. Em todos esses ambientes, a música ucraniana soa muito natural. É assim que mostramos como que a nossa cultura ucraniana pode ser única e, ao mesmo tempo, integrar-se no mundo.

Aproveitar a viagem

Sobre os artistas brasileiros, Halanevych não cita nomes. “Seria uma grande experiência para nós se gravássemos com alguns músicos daí. O Brasil tem uma cultura brilhante, é famoso por isso em todos os lugares. Queremos realmente aprender nesta viagem.” E o que um músico ucraniano gostaria de fazer se tiver algum tempo livre no Brasil? “Estamos à espera de grandes oportunidades no Brasil. É claro que quero ver locais históricos e a incrível natureza de vocês, além de conhecer e falar com os brasileiros.” A referência mais próxima que Halanevych tem do Brasil não é brasileira, mas ucraniana. Ele se lembra do cantor Yeugen Hudz, da banda Gogol Bordello, que viveu no Brasil. “Ele já disse que o seu país é o melhor lugar do mundo para se viver. Então, nós queremos ver e nos apaixonar por este Brasil.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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