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Roberto Faenza fala sobre o filme que o trará ao Brasil para ser homenageado

Ainda é o aquecimento, mas nesta segunda-feira, 14, começa no MIS, Museu da Imagem e do Som, o ciclo em homenagem a Marcello Mastroianni. Formada por sete filmes, a minirretrospectiva dedicada ao astro que morreu em 1996 – há 20 anos! -, precede o 12.º Festival do Cinema Italiano, apontado para iniciar dia 24, mas que terá abertura oficial no Auditório Ibirapuera, no dia 21. O filme inaugural será “Veloce come Il Vento” (Rápido como o Vento), de Matteo Rovere, com Steffano Accorsi, que se baseia numa história real.

Também baseado numa história real é “La Verità Stá in Cielo” (A Verdade Está no Céu), que deve trazer a São Paulo o cineasta Roberto Faenza, de 73 anos, para receber a homenagem do festival – e da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio, que organiza o evento. Já se passaram mais de 30 anos desde que, em 22 de junho de 1983, a filha (de 14 anos) de um funcionário do Vaticano, Emanuela Orlandi, foi sequestrada na porta da escola. Desde a época, teceram-se muitas histórias, envolvendo poder e religião, a Sé e a criminalidade. O caso nunca foi esclarecido. Numa entrevista por telefone, de Roma, Roberto Faenza entrega. “Fomos filmar a cena do sequestro na porta de uma escola que pertence à Igreja. Apareceram dois pistoleiros que ameaçaram disparar, se não dispersássemos. Todo esse tempo e o caso ainda gera tensão. Por quê?”

Para responder à própria pergunta, Roberto Faenza fez um filme, “A Verdade Está no Céu”. Tem a ver com a resposta que o papa Francisco teria soprado no ouvido do irmão de Emanuela. “Ela está no paraíso.” Faenza prefere acreditar que a verdade está na Terra, num documento que o Vaticano mantém guardado a sete chaves, como ele sugere no desfecho da investigação que é seu filme, uma das grandes atrações do Festival Italiano deste ano. Qualquer cinéfilo identifica a vocação política do cinema italiano, bastando lembrar diretores como Francesco Rosi, Elio Petri e Damiano Damiani. Faenza reabre a vertente. “Nunca estivemos mais próximos de descobrir as verdade do caso, mas não sei se conseguiremos. De minha parte, espero estar contribuindo, quem sabe numa última tentativa, para que a família e a Itália obtenham respostas sobre esse crime que ainda fere as consciências. Mas o que ocorreu?”

Faenza pertence à geração que irrompeu no cinema italiano nos anos 1960. Nunca foi polêmico como Pier Paolo Pasolini, nem tão grande como Marco Bellocchio, que estrearam poucos anos antes, mas colecionou sucessos, prêmios. No Brasil, talvez seja mais conhecido por “Páginas da Revolução”, Sostiene Pereira, que adaptou de Antonio Tabucchi, com Marcello Mastroianni. “Mais que a política, a denúncia do salazarismo (em Portugal), o que toca no filme é a vecchiara, a velhice”, ele avalia. “Forza Itália!”, seu ataque à Democracia Cristã, foi banido das telas no dia do sequestro de Aldo Moro, e nunca mais voltou. E por “Jonas Que Viveu Dentro da Baleia” ganhou o David di Donatello, o Oscar italiano, de melhor diretor. Além de cineasta e roteirista, é ensaísta político e lecionou em Washington e na Universidade de Pisa.

Faenza baseou-se na série de reportagens da jornalista da Rai, Rafaella Notarile. Nesses anos todos, tem sido duro em relação às instituições, sejam políticos ou a Igreja. “As pessoas têm essa ideia ingênua de que a Igreja defende a palavra de Cristo. Mas a Igreja transformou-se num Estado monocrático, e como tal tem seu lado sombrio. É uma coisa de Deus como do Diabo.” Faenza esclarece que sempre pensou numa ficção dramática. “Queria trabalhar com a emoção, e por isso descartei o documentário. Como são muitos personagens que podem ser seguidos, consideramos a possibilidade de uma série de TV, mas não. O importante é ser mais conciso, compacto. Não inventei nada. O filme baseia-se em fatos. No máximo, dou minha interpretação deles, mas nada que me afaste da realidade que conseguimos levantar.”

Para a Câmara Ítalo-Brasileira, a vinda confirmada de Faenza é um alívio, e uma afirmação de credibilidade. No ano passado, o 11.º Festival anunciou a vinda de Lina Wertmüller, que chegou a confirmar, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, sua participação, mas, na última hora, e alegando razões de saúde, cancelou a viagem. O festival passado, de alguma forma, esvaziou-se. O deste ano promete. Será formado por 16 filmes inéditos, que pretendem traçar um amplo panorama da atualidade da cinematografia italiana, além de resgatar os clássicos com Mastroianni. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

PROGRAMAÇÃO

– Rápido Como o Vento (Veloce Come Il Vento)
– Eu e Ela (Io e Lei)
– Assolo
– In Bice Senza Sella
– Um Lugar Seguro
– O Mundo do Meio (Il Mondo di Mezzo)
– Indivisibili
– Senza Lasciare Traccia
– A Vida Possível
– Io Che Amo Solo Te
– Estes Dias (Questi Giorni)
– La Pelle DellOrso
– A Verdade Está no Céu (La Verità Sta In Cielo)
– A Boa Saída (La Buona Uscita)
– Os Últimos Serão os Últimos (Gli Ultimi Saranno Ultimi)
– Ninguém é Salvo Sozinho

12º FESTIVAL DE CINEMA ITALIANO
Auditório Ibirapuera. Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, tel. (011) 3629-1075. 2ª (21), abertura. Até 30/11

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