Três semanas antes de desembarcar em São Paulo ao lado de Nicolas Godin, o músico francês Jean-Benoît Dunckel se surpreendeu com uma frase escrita em um muro de Paris, enquanto andava de táxi pela cidade onde mora. “O tempo é bom”, dizia aquela parede ao mundo – ou para quem despejasse sua atenção a ela. A frase ficou na cabeça de Dunckel, justamente uma das metades do Air, duo visionário de música eletrônica que há muito tempo sabia disso. O tempo é bom. E assim foi com o Air, grupo que despontou no final dos anos 1990, quando a música eletrônica vivia uma época de entressafra – ou uma ressaca depois de tantos alucinógenos sintéticos usados nas raves que começaram a se espalhar a partir do Reino Unido. “Nunca tive tempo do medo”, diz Dunckel, que divide as funções criativas do Air com Godin. Os dois estão de volta a São Paulo para uma apresentação no Audio Club, nesta terça, 15, às 22h, como parte do Popload Gig.
Vinte anos atrás, o Air despontava como uma novidade. E o disco de estreia, Moon Safari, lançado em 1998, foi visionário ao estabelecer ao grande público o downtempo, subgênero da música eletrônica mais contemplativo, às vezes psicodélico, de batidas vagarosas – se é que elas, às vezes, existem – tudo lavado por toneladas e mais toneladas de sintetizadores. Não é por acaso que o disco entrou na lista de 100 maiores discos dos anos 1990 pela Rolling Stone.
“O tempo transforma tudo”, continua, filosófico, Dunckel. “Tudo está sempre em constante mutação. Transforma-se. É claro, existem fases difíceis, outras boas. De alguma forma, acho reconfortante pensar na ideia de que existe um grande mistério à nossa frente. É sempre uma surpresa.”
Ele, por exemplo, não poderia imaginar o caminho que Moon Safari percorreria naquele ano de 1998, muito menos a aclamação do Air diante da crítica. Dentre as surpresas, Dunckel pode conhecer David Bowie, a quem ele define como o maior mestre da música. Bowie, que morreu neste difícil ano de 2016 em questão de perdas de grandes estrelas, encontrou-se com o Air em algumas ocasiões, quando a dupla criava o remix da música Better Future, do disco Heathen, do Camaleão, de 2002.
Sobre um novo disco de inéditas do Air, Dunckel responde da forma como era esperado, em coro ao que foi lido na parede de Paris há alguns dias. “Por enquanto, não (temos planos). É preciso existir aquele impulso. E ele ainda não apareceu”, diz. O tempo, sempre ele, dita as regras com o Air. “Conosco é sempre assim.”
Mais amanhã
O Popload Gig terá mais uma edição nesta quarta-feira, 16. Novamente no Audio Club, apresentam-se Courtney Barnett, às 21h, e a banda Edward Sharpe and The Magnetic Zeros, às 22h30. Os ingressos, que vão de R$ 200 a R$ 400, ainda estão disponíveis.
POPLOAD GIG COM AIR
Audio Club. Av. Francisco Matarazzo, 694, Água Branca, 3862-8279. Hoje (15), às 22h.
R$ 240 a R$ 300.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.