Variedades

Brasileiro cria plataforma colaborativa com músicos de vários países

Em 2014, durante uma viagem a Kiev, capital da Ucrânia, o jornalista Daniel Bacchieri se encantou com um instrumento musical do qual nunca tinha ouvido falar. A bandura, um violão típico do Leste Europeu, despertou a atenção do jovem pelas ruas da cidade. Ele gravou a cena com o próprio celular e publicou a performance do músico de rua no Instagram. Motivado pelo acontecimento, assim que retornou ao Brasil, poucas semanas depois, decidiu criar um canal que reunisse registros amadores de apresentações de músicos de rua ao redor do mundo. Nascia assim o StreetMusicMap. “Antes, eu usava a minha conta pessoal no Instagram para publicar os vídeos. Depois de um tempo, com a ajuda da internet, o conteúdo ficou conhecido e passou a ser colaborativo. Os usuários, portanto, publicam os vídeos e registram geograficamente onde isso aconteceu pelo próprio Instagram”, diz Bacchieri, em entrevista.

Publicados no Instagram ou no site do projeto, os vídeos são curtos. Duram de 15 segundos a 1 minuto e mostram os músicos se apresentando em praias, estações de metrô e praças públicas. Segundo Bacchieri, a plataforma lançada em 2014 conta com 1.200 vídeos de 93 países diferentes. Além do Brasil, performances já foram registradas nos Estados Unidos, Argentina, França, Alemanha, Ucrânia, Rússia, Sudão, Vietnã e vários outros locais. “Vídeos curtos são suficientes para prender a atenção e provocar interesse. Sendo assim, as pessoas podem clicar em vídeos de outros músicos e ter uma noção básica de quão forte é a música em culturas diferentes das nossas”, complementa. Ainda de acordo com Bacchieri, a divulgação dos vídeos ajuda os músicos de rua, dá visibilidade e os aproxima das gravadoras.

“O objetivo é mostrar quantos talentos existem espalhados por aí. Acho que também serve para fazer a ponte entre os músicos, os produtores musicais e os fãs. A ferramenta pode ajudar na curadoria de festivais, por exemplo”, conclui Bacchieri.

O StreetMusicMap, por enquanto, não gera nenhum lucro para Bacchieri ou os músicos participantes. O projeto é tocado com a própria renda do jornalista. Nascido na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, Bacchieri trabalha como repórter freelancer em São Paulo, fazendo produção audiovisual para documentários e publicidade. Em novembro, ele ganhou uma bolsa de empreendedorismo em Nova York (leia mais ao lado). Bacchieri ficará seis meses nos Estados Unidos para aprimorar o projeto e aperfeiçoar seu modelo de negócios para que assim, quem sabe, possa torná-lo rentável. “Terei quatro meses de aula de empreendedorismo e negócios. A meta é gerar algum tipo de lucro. Vai ser bom para expandir os horizontes”, afirma ainda.

Além de realizar a gravação dos artistas que encontra, o jornalista faz pesquisas na web, buscando vídeos de novos músicos. Ele também recebe sugestões de colaboradores. O perfil do projeto no Instagram tem ao todo mais de 40 mil seguidores. Com o canal criado, amigos e conhecidos começaram a enviar vídeos e o projeto se tornou colaborativo. Bacchieri recebe sugestões por e-mail e seleciona o material que entra no StreetMusicMap. Além disso, o jornalista faz buscas de músicos de rua na internet e os convida a colaborar. “O canal cresceu e as conexões se ampliaram”, disse.

Por fim, Bacchieri também pesquisa vídeos públicos em perfis do Instagram e republica os que considera válidos. Para isso, entra antes em contato com o dono do perfil e pede autorização para publicar. “Para mim, é uma reportagem diária. Gosto de contar histórias, mostrar o quão fascinante a música pode ser não só no Brasil, mas em vários outros lugares do mundo”, analisa.

Além do Instagram, o StreetMusicMap também criou uma conta no Spotify com seleções de músicos de rua. São playlists temáticas de acordo com as publicações de diferentes cidades, como Los Angeles, Berlim, São Paulo e Nova York. O trabalhou também rendeu o lançamento do disco StreetMusicMap Vol.1 – Live at O.bra Festival, a primeira coletânea ao vivo a reunir bandas brasileiras de rua. Com produção da Loop Discos, o trabalho reúne apresentações que ocorreram no Largo do Arouche, em São Paulo, nos dias 23, 24 e 25 de outubro de 2015, durante o O.bra Festival, evento internacional de arte urbana criado pelo projeto Instagrafite.

Bolsa

Em novembro, Daniel Bacchieri ganhou uma bolsa de empreendedorismo em NY. O jornalista ficará seis meses nos EUA para aprimorar o projeto e seu modelo de negócios. Por enquanto, o projeto não gera renda. Isso vale tanto para ele quanto para os músicos que participam dele. É justamente isso que Bacchieri quer mudar com o programa de Empreendedorismo em Jornalismo do Tow-Knight Center, da The City University of New York.

Daniel é um dos bolsistas selecionados para a edição 2017 do curso, especializado em novos modelos de negócios em comunicação. “Vou receber feedbacks de startups, trocar experiências e aprender mais sobre negócios. Acho que vou aproveitar muito esse intercâmbio profissional e cultural. O objetivo, portanto, é ampliá-lo, aproveitando os recursos disponíveis no mercado. Pode dar certo”, conclui.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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