Beleza? Tristeza? Talvez somente em melodramas clássicos como Mãe Redentora, de King Vidor, algum roteirista poderia imaginar a situação. A mãe, tão amargurada pela perda da filha, morre também. Foi o que ocorreu com Debbie Reynolds. Na quarta, 28, o jornal “O Estado de S. Paulo” lembrava que não é fácil para uma mãe – mãe nenhuma – enterrar a filha. “Que a Força esteja com Debbie”, escreveu o repórter. Não foi suficiente. Naquele mesmo dia, à noite – um dia após a morte de Carrie Fisher, a eterna princesa Leia -, sua mãe não resistiu. Na casa do filho, Todd Fisher, Debbie teve um AVC. Chegou a ser atendida, mas não adiantou. Morreu de dor, de tristeza. Aos 84 anos.
E não que não fosse forte. Em 1958, Debbie – nascida Mary Frances Reynolds, em 1932 – tinha 26 anos. O marido, o cantor Eddie Fisher, e ela eram muito amigos do casal mais célebre de Hollywood, na época – o produtor Mike Todd e sua mulher, a estrela Elizabeth Taylor. Todd morreu num acidente aéreo, Fisher foi consolar a viúva. Nem voltou para casa. Naquele mesmo ano, e por um breve período, já estava casado com Liz. Abandonou mulher e filhos – Carrie tinha 2 anos. Debbie resistiu bravamente. Casou-se de novo e depois segurou muitas vezes a instabilidade emocional da filha. Carrie sofria de transtorno bipolar, era drogada. Mamãe manteve-se firme. Administrava a própria carreira e ainda tinha tempo para benemerência – chegou a ganhar o Jean Hersholt Award, com que a Academia de Hollywood agracia aqueles que, na indústria, se destacam pela ação humanitária.
Esse comprometimento com o outro – os outros – deve-se, muito provavelmente, à rígida educação religiosa que Debbie teve, na infância e adolescência, na Igreja Protestante do Nazareno. Isso não a impediu de desenvolver certas aptidões – canto, dança – nem se candidatar num concurso de miss, que, por sinal, venceu. Chamou a atenção de olheiros do estúdio Warner, foi contratada e estreou num papel secundário de June Bride, em 1948, com apenas 16 anos. Aos 20, em 1952, já estava na Metro, quando fez Cantando na Chuva, de Stanley Donen e Gene Kelly, considerado um dos grandes e, por muitos, o maior musical do cinema. Cantar e dançar com Kelly e Donald OConnor garantiu-lhe a imortalidade.
Sem ser uma beldade glamourosa – como Taylor -, Debbie estava mais para a garota da porta ao lado. O casamento com Eddie Fisher ajudava nessa aura de normalidade com que o público se identificava com ela. O escândalo do divórcio – com Liz como pivô – transformou-a em vítima. Com exceção de um hiato considerável – entre 1975 e 89 -, nunca parou de filmar. Um ou mais filmes, ou telefilmes, por ano, todos os anos, até 2009. E, depois, ainda, participações especiais em 2012 (One for the Money) e 13 (Minha VIda com Liberace). Embora extensa, sua filmografia não é brilhante, salvo em momentos pontuais.
Todo mundo já lembrou Cantando na Chuva, claro, mas, para permanecer no musical, vale lembrar também A Inconquistável Molly, de Charles Waters, que a candidatou ao Oscar de 1964. Debbie tinha o physique du rôle para ser Molly Brown, texana pobre que ficou milionária graças ao petróleo e sobreviveu ao naufrágio do Titanic – na versão de James Cameron, Kathy Bates fazia o papel. Cantar e dançar no transatlântico que afundava não foi o menor dos desafios de Debbie como atriz. Fez western (o épico A Conquista do Oeste, nos episódios assinados por Henry Hathaway e George Marshall) e teve seu maior momento no drama no grand guignol Obsessão Sinistra, de Curtis Harrington, de 1971. Na linha de O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, do mesmo autor, Henry Farrel, Debbie e a irmã (Shelley Winters) aprontavam em Hollywood, nos anos 1930. Tudo isso lhe valeu a estrela na Calçada da Fama e o lugar no coração dos fãs. O maior deles? Rubens Ewald. Rubinho sempre foi devoto de Debbie Reynolds.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.