Variedades

Morre a luminosa estrela dos anos 60

Ela foi uma das mais luminosas estrelas do cinema brasileiro nos anos 1960. Irene Stefânia pertencia ao time mítico de Leila Diniz, com quem contracenou, e Adriana Prieto. As outras morreram muito jovens. Irene viveu mais, mas, a partir de determinado momento, renunciou à interpretação, à mídia. Foi ser terapeuta. Morreu tão discretamente que, na quinta, 5, quando começaram a circular os rumores nas redes sociais, o mais difícil era confirmar a informação. No sábado, 7, Ancelmo Góis finalmente deu a confirmação, em sua coluna no Globo.

Morreu Irene Stefânia! Paulistana, nascida em 1944 – tinha 72 anos -, ela estudou filosofia e música clássica. Desistiu de tudo para ser atriz. Estreou, já como protagonista, em O Alegre Mundo de Helô, de Carlos Alberto de Souza Barros, em 1967, com apenas 19 anos. Tinha lindos olhos azuis e era sardenta, o que lhe conferia um charme especial. Em 1968, coestrelou Lance Maior, de Sylvio Back. Reginaldo Faria ficava dividido entre Regina Duarte, como uma garota rica, e ela, que fazia a comerciária. Ainda em 1968 fez Fome de Amor, o filme mais experimental da carreira de Nelson Pereira dos Santos, e no ano seguinte Os Paqueras, que marcou a estreia de Reginaldo Faria, na direção.

Seguiram-se As Armas, de Astolfo Araújo; Cléo e Daniel, adaptado do livro de Roberto Freire; Azyllo Muito Louco, de Nelson Pereira, de novo; Mãos Vazias, de Luiz Carlos Lacerda; e Amor e Medo, de José Rubens Siqueira. No final dos anos 1970, Irene parou com a carreira e só retornou em 1987, com Anjos do Arrabalde, de Carlos Reichenbach.

Passaram-se mais de 20 anos e integrou o elenco coral de O Signo da Cidade, de Carlos Alberto Riccelli. Por essa época, entre 2003 e 2008, participou de montagens do grupo Satyros. Fez algumas (poucas) novelas – Tempo de Viver, Supermanoela, Música ao Longe. Talvez não seja uma obra muito extensa, mas é certamente importante. E a psicologia, à qual se dedicou, abriu-lhe outra janela paras expressar seu interesse pelo humano. Todos os depoimentos nas redes sociais ressaltam que foi uma terapeuta profundamente comprometida com seus pacientes.

Mas basta fechar os olhos e logo vem as imagens. Irene em Os Paqueras, em Fome de Amor. No longa de Reginaldo Faria, o próprio diretor e Walter Forster competem pelo maior número de conquistas. E eis que Forster vira fornecedor do concorrente, que se envolve com sua filha – Irene. Em Fome de Amor, ela faz uma revolucionária, adepta das ideias do camarada Mao – o filme foi feito no mítico 1968 -, que, de repente, descobre que pode estar sendo usada pelo marido playboy. E se Arduíno Colasanti estiver querendo matá-la para ficar com a mulher (Leila Diniz) do cego Paulo Porto? Nelson fez um filme plástico e inovador. Nunca ele desconstruiu tanto a narrativa tradicional. Leila e Irene são arrasadoras. O mesmo trio – Leila/Irene/Colasanti – está em Mãos Vazias, que Luiz Carlos Lacerda adaptou de Lúcio Cardoso. E, em Amor e Medo, José Rubens Siqueira dramatiza a experiência de sua geração sob a ditadura, com José Wilker e Irene. Tão bela e talentosa – só cabe lamentar que ela não tenha filmado tanto, mas foi uma escolha de Irene Stefânia, que foi fazer outras coisas na vida.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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