Existe uma língua, um canto comum, que conecta homens e animais no Brasil. Originária do Oriente Médio, como alerta ao povo para o início das orações, se espraiou pelo Nordeste brasileiro no chamado aboio, entoado pelos vaqueiros ao conduzir o gado para o curral.
É essa animalidade que o ator Alexandre Guimarães buscou para o espetáculo O Açougueiro, em cartaz a partir desta sexta, 10, no Sesc Pompeia. A montagem tem quase 60 minutos da montagem, o pernambucano adianta que seu período de preparação é bem maior e que o desejo de falar do mundo tem o mesmo tamanho. Na peça, Guimarães vive sete personagens típicos da região da caatinga, mas que encontram correspondências com o mundo, como o aboio. “Essas manifestações culturais deflagram a nossa identidade e relação com outros povos, entre elas, a comércio tradicional da carne”, aponta.
Além da imersão na cultura árabe, o autor e diretor Samuel Santos explica que as figuras da peça também trazem características ligadas ao candomblé, o que demandou ao ator um treinamento corporal com a Cia Biruta, de Petrolina, que pesquisa o movimentos dos orixás voltado para a cena. “Os personagens são arquétipos de uma região, que vive da pecuária familiar”, explica Santos. “Eles estão representados na figura do caboclo, do vaqueiro.”
A peça, que já passou por Curitiba (PR), Trindade (RJ), cidades do Sul e Sudeste e conquistou prêmios pela interpretação e caracterização do ator, narra a vida do dono do matadouro que se apaixona por uma prostituta e a leva para trabalhar com ele. Se antes, a mulher convivia com a tolerância da comunidade pelo particular comércio da própria carne, quando muda de emprego passa a sofrer preconceito. “Temos aí o retrato de um país machista e que concentra um alto número de mulheres violentadas e assassinadas”, acrescenta Guimarães.
O AÇOUGUEIRO
Sesc Pompeia. Rua Clélia, 93. Tel.: 3871-7700. 5ª, 6ª, sáb., 21h; dom. 19h. R$ 25/R$ 12,50. Estreia hoje, 10, às 21h. Até 5/3
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.