Depois de a famosa hashtag #OscarSoWhite ter exposto a absurda ausência de negros no Oscar 2016, teremos enfim um “Oscar black” em 2017? Talvez seja exagero dizer isso. Em todo caso, desta vez os artistas negros não foram ignorados pela Academia de Hollywood e teremos, pelo menos, um Oscar bem mais diverso e engajado que o do ano anterior. Interessante contraponto, pois acontece no mesmo ano em que se inaugura a era Donald Trump, presidente de viés conservador, que assumiu o cargo com atitudes discriminatórias em relação a países e etnias e, não por acaso, já se colocou em litígio com a classe artística norte-americana.
Um desses concorrentes entra nesta quinta, 16, em cartaz no Brasil. O documentário Eu Não Sou Seu Negro, de Raoul Peck, disputa a estatueta em sua categoria e terá, como competidores, dois outros filmes de peso dedicados à questão racial norte-americana – A 13.ª Emenda e O.J.: Made in America.
A presença black não se resume aos documentários. Entre os indicados na categoria principal, a de melhor filme, há três produções interpretadas por atores negros e que discutem a questão racial – Estrelas Além do Tempo, Moonlight – Sob a Luz do Luar e Um Limite Entre Nós.
Artistas negros disputam estatuetas em diferentes categorias. Barry Jenkings (de Moonlight) é candidato a melhor diretor. Ruth Negga concorre a melhor atriz por Loving. Denzel Washington está no páreo para melhor ator por Um Limite Entre Nós, filme dirigido por ele mesmo; no entanto, Denzel não aparece na lista dos finalistas a diretor. Vários atores e atrizes disputam estatuetas em papéis coadjuvantes: Mahershala Ali e Naomi Harris em Moonlight, Viola Davis em Um Limite Entre Nós e Octavia Spencer em Estrelas Além do Tempo. Esses filmes também concorrem a prêmios em outras categorias como a de melhor roteiro adaptado, com Um Limite Entre Nós, Estrelas Além do Tempo e Moonlight.
É bem possível que essa presença forte se deva à reação contra uma premiação tida como excludente no ano passado. Mas também é verdade que nenhum desses filmes parece ter entrado por uma questão simples de “cota”. Estão lá porque, em sua maioria, são de fato muito bons. A começar por Eu Não Sou Seu Negro, resgate da figura de James Baldwin, personalidade fundamental da intelligentsia norte-americana, que andava em injusto esquecimento.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.