Mais de 800 eventos, entre palestras, cursos, shows, concertos e exposições vão compor a programação deste ano da Unibes Cultural. Idealizada por Bruno Assami, a agenda tem como destaques as exposições Caravaggio Experience e Frida e Eu, esta última proveniente do Centre Pompidou, de Paris, com uma recriação da Casa Azul, onde viveu a artista, destinada a apresentar sua obra ao público infantil.
Assami conta que a programação é o resultado de uma reflexão que lhe foi proposta pela Unibes em 2003 a respeito do que seria um centro cultural em uma cidade como São Paulo. “De cara eu me dei conta de que não dava para responder a essa pergunta sem discutir, antes, a relevância da cultura no século 21”, ele diz. Com passagens por instituições como o Itaú Cultural e o Masp, ele recorreu à Declaração Universal dos Direitos dos Homens. “O acesso à cultura está ali, como um dos cinco eixos fundamentais, ao lado da educação, saúde, moradia e educação. Em uma cidade como São Paulo, há pessoas que precisam ser assistidas de modo permanente, um trabalho que a Unibes já faz. Mas, naquele momento, havia uma nova classe média surgindo no País, uma classe de consumo, mas ainda órfã de pensamento. Eram pessoas que não precisavam mais ser assistidas em direitos básicos, mas ainda órfãs de cultura.”
A partir dessa percepção, Assami passou a entender a cidade como um espaço de necessária inclusão, “de crescimento coletivo”. “E quando sabemos que cidade queremos construir, naturalmente surgem as bases do que seria um centro cultural, com a proposta de inclusão levada também à programação, que tem design, moda, música, artes plásticas, cinema, sustentabilidade, mundo digital.”
Mas não se trata apenas de contemplar os mais diferentes gêneros – mas de entender o modo como eles se desenvolvem hoje. “Há sistemas da arte com circuitos consolidados, caso das artes plásticas, da música erudita, da MPB. Mas eu parti em uma jornada que me levou a descobrir um universo de produção e consumo do qual nós não ficamos sabendo, que nasce e cresce nas redes sociais, por exemplo. São shows para mais de mil pessoas, realizados via crowdfunding, plataformas de música independente com mais de quatro mil músicas autorais, artistas plásticos trabalhando em suas comunidades. A programação também precisaria olhar para isso, para essa cidade que existe sem que a gente a conheça, onde há muita inovação.”
Essa percepção levou a uma multiplicidade de atuações. Além de palestras, cursos, apresentações musicais, há por exemplo um laboratório de inovação, onde projetos são apresentados, formatados e discutidos. “Há vários mundos em uma cidade como São Paulo. E uma preocupação clara para nós é focar no empreendedorismo artístico.
Além disso, há a formação. Alunos da Escola de Música do Estado e do Projeto Guri, por exemplo, fazem apresentações diárias para as 2.500 pessoas que passam aqui em frente, pois utilizam ônibus fretados que têm o metrô Sumaré como destino. Queremos olhar para quem está à nossa volta. Um outro exemplo: estamos formatando um projeto com a turma do skate, que utiliza uma praça aqui do lado. Mas são eles que nos ajudam a entender em que sentido o nosso espaço pode se tornar um ponto de referência para eles.”
A programação é dividida em faixas etárias. Para as crianças, o centro quer ser como “uma praça pública”; para os jovens, o foco está na questão vocacional; para os adultos, na ampliação do conhecimento e na discussão de questões que vão de aspectos da vida cotidiana à uma reflexão filosófica sobre a morte. “Para os idosos, a abordagem é intergeracional. Queremos tirá-los do isolamento. É preciso pensar tudo isso em conjunto, com um diálogo entre todas as faixas etárias, fazendo do nosso espaço um espaço de convivência cultural.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.