O ano era 2009 e se mais de 10 pessoas no Brasil conheciam com autoridade o The xx, alguém iria pedir a recontagem. Ainda era muito improvável. A banda então formada apenas por formada por Romy Madley Croft (guitarra e voz), Oliver Sim (baixo e voz), recém-chegados aos 20 anos, com espinhas no rosto e sem saber se sorriam ou se faziam o tipo sofredores, parecia ser mais brincadeira de dois estudantes da escola famosa por formar músicos de bandinhas indies, a Elliott School, em Londres – de lá saíram Hot Chip e The Maccabees.
Lançado naquele ano, o primeiro álbum, chamado apenas de xx, soava como a abertura para a intimidade daqueles dois cuja amizade nascera na adolescência. O mistério e a melancolia das músicas em torno da dupla, que logo viraria trio com a chegada de Jamie Smith, para assumir as programações e efeitos do grupo, foram perfeitos para a imprensa britânica cair de amores. Sempre desesperados em encontrar novas tendências na sua música, mesmo que para isso dê alguns tiros nágua pelo caminho, veículos especializados, como a revista hoje quase extinta New Musical Express, investiu no trio.
Outro exemplo: O Mercury Prize, prestigioso prêmio que indica o melhor disco britânico do ano, assumiu o risco de colocar o The xx no mesmo patamar de outros vencedores, como Primal Scream (com Screamadelica, em 1992), Pulp (com Different Class, 1996) e PJ Harvey (com Stories from the City, Stories from the Sea, em 2001).
O bochicho já estava armado. Em 2010, muito mais de 10 pessoas no Brasil já conheciam aqueles três jovens tímidos de Londres. Faltava um detalhe: eles precisavam querer também. Assumiriam ou não o pop?
Talvez tenha sido a contragosto. Talvez tenha demorado mais do que deveria. Talvez eles tenham tido algumas brigas até decidirem qual caminho tomar. Não importa. O The xx, aquela bandinha de colégio de espinhentos e canções introspectivas boas para serem ouvidas em noites solitárias com o pote de um litro de sorvete no colo, enfim chegou lá.
Em mais uma versão do festival norte-americano Lollapalooza em São Paulo, o The xx estará disputando a atenção como atração principal da primeira noite de evento, no sábado, 25 de março, com o gigante do heavy metal Metallica – o salgado valor do ingresso de R$ 460 (há meia-entrada) para um dia de festival vale pela experiência de testemunhar os fãs das duas bandas coexistindo no mesmo espaço, no Autódromo de Interlagos. A segunda noite será capitaneada pelo pop junkie de The Weeknd e o rock que um dia já foi sujo do The Strokes.
Para chegar ao topo de um pôster de festival no Brasil, o The xx percorreu um longo caminho. Há quatro anos, por exemplo, a banda havia visitado São Paulo e sido escalada com destaque para o Popload Festival, no HSBC Brasil. A capacidade da casa era de 4,5 mil pessoas, um número 17 vezes menor do que o total de público comportado pelo Autódromo de Interlagos, 80 mil.
Depois de xx, o The xx preferiu se esconder ainda mais. Nasceu Coexist, em 2012, um disco com mais silêncio, mais gelado. Quanto mais a crítica e o público amavam o The xx, a banda parecia se esconder. Em três anos, de 2010 a 2013, foram realizados 303 shows. Isso chegou ao fim em meados de 2014. Cada um dos integrantes foi para um canto. O grupo precisava respirar longe do palco. Jamie Smith, há dois anos, fez sua estreia solo com In Colour, um disco eletrônico que trazia, em quatro faixas, as vozes dos companheiros de banda e apontava por um caminho mais leve, menos sisudo, para o som do The xx.
I See You mostra aquilo que o The xx poderia ser se deixasse alguns mililitros de melancolia para fora do seu caldeirão e acrescentasse temperos mais picantes. “Eu não acho que a gente só goste de canções tristes, mas isso é algo que nos interessa, mesmo”, diz Smith ao Estado. Tido como o responsável pelo sorriso que quebra o gelo em I See You, ele credita ao seu trabalho solo a chance de ousar nas composições da banda. “Pudermos sair da caixa um pouco, pensar em algo diferente.” O músico fala da França, onde o grupo se apresentaria naquela noite, no início da turnê que só vai acalmar em setembro. “Estamos voltando a nos acostumar com essa vida na estrada.” Naquela noite, Smith havia derrubado o aparelho celular no vaso sanitário e falava pelo smartphone do empresário. O mundo pop, afinal, não é só glamour. “Pois é, acontece (risos).”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.