Diz a história que, ao ser apresentado em um evento público, como o “autor das Bachianas”, Villa-Lobos respondeu de pronto, não muito contente. “E por que sempre as Bachianas? Eu também escrevi outra música, música importante.” No caso do compositor, nem sempre é fácil separar lenda da realidade. Mas, querendo ele ou não, as peças entraram para a história da música brasileira como sinônimo de seu nome. E, não por acaso, foram escolhidas pelo Theatro Municipal de São Paulo para homenagear o autor, que, neste domingo, 5, faria 130 anos.
Neste sábado e domingo as nove Bachianas serão interpretadas em dois concertos diários. O primeiro, às 16h30, traz as de nº 1 (para orquestra de violoncelos), nº 6 (flauta e fagote), nº 5 (violoncelos e soprano), nº 8 (orquestra) e nº 4 (orquestra de cordas); e, às 20 horas, as de nº 9 (para coro), n.º 3 (piano e orquestra), nº 2 (orquestra) e nº 7 (orquestra). A regência é de Roberto Minczuk, à frente da Orquestra Sinfônica Municipal. Na nº 3, o solista é o pianista Jean-Louis Steuermann; na de nº 5, a soprano Laura Duarte; na n.º 9, o Coral Paulistano Mário de Andrade.
“As Bachianas reúnem as duas grandes paixões de Villa-Lobos, Bach e o Brasil”, diz o maestro Minczuk. “É o país em forma de música que se revela nessas nove peças, em toda a sua imensidão, com referências tanto à música e à cultura urbanas como à tradição folclórica e sua riqueza, que tanto interessaram o compositor. Some a isso à beleza das melodias, carregadas de uma certa melancolia, e não é difícil entender como até hoje estão entre as peças mais populares de Villa-Lobos.”
As Bachianas foram escritas entre 1930 e 1945. Nelas, como o nome sugere, o compositor tenta unir uma identidade nacional brasileira à tradição da música de Bach. Se confiamos no relato do próprio Villa-Lobos, a combinação era mais do que natural. “A música de Bach vem do infinito astral para se infiltrar na terra como música folclórica e o fenômeno cósmico se reproduz nos solos, subdividindo-se nas várias partes do globo terrestre, com tendência a universalizar-se”, escreveu o compositor. Em outras palavras, Bach representaria uma espécie de folclore primordial, universal – e, portanto, em diálogo com qualquer manifestação regional.
Há uma explicação menos esotérica. Naquele momento, diversos autores europeus, que Villa-Lobos conhecera em Paris, como Stravinski, voltavam-se a Bach e aos compositores do neoclassicismo como fonte de inspiração. Seja como for, Villa trata a ideia com bastante originalidade e, ao mesmo tempo, criando obras que desenvolvem uma relação direta com a plateia. Basta lembrar do Trenzinho do Caipira, último movimento da Bachiana nº 2 ou nº 5.
“São dois momentos que o público com certeza vai reconhecer”, diz Minczuk. “Mas quisemos realizar todas elas justamente para mostrar as outras facetas do ciclo, que é muito diverso, com formações distintas e uso interessante de instrumentos de percussão ou do saxofone, por exemplo. A diversidade das Bachianas, seu aspecto quase caótico, também é símbolo da riqueza e da multiplicidade do Brasil.”
CICLO BACHIANAS
Theatro Municipal. P. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 3053-2100.
República. Sáb. (4) e dom. (5), às 16h30 e 20h. R$ 17,50 a R$ 100
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.