A história começa quando três colegas de conservatório em Paris resolveram se reunir em um grupo de câmara. “Foi uma decisão totalmente despretensiosa. Não havia nenhum objetivo muito claro além de fazer música. E, pelo que me lembro, mais de um professor tentou nos dissuadir”, conta o pianista Vincent Coq. Ainda assim, ele, o violinista Jean-Marc Phillips-Varjabédian e o violoncelista Raphael Pidoux foram adiante. Criaram o Trio Wanderer que, ao longo de 2017, comemora seus 30 anos de atividades, celebrados como um dos principais conjuntos da atualidade.
A turnê passa nesta terça e quarta-feira (dias 28 e 29) por São Paulo, quando o Trio abre a temporada da Cultura Artística na Sala São Paulo. No programa de hoje, interpretam Beethoven (Trio Arquiduque), Tchaikovski (Trio Op. 50) e Schubert (Noturno); amanhã, mais Beethoven (Trio Fantasma), e uma seleção de obras do século 20, os trios de Fauré e Ravel e Vitebsk, de Aaron Copland. “O primeiro programa traz dois grandes monumentos, as peças de Beethoven e Tchaikovski, com uma pequena joia, que é o Schubert, no meio.” Já no segundo, a ideia foi montar um caleidoscópio. “Depois do Beethoven, adentramos um outro mundo, o das harmonias estranhas e belas de Ravel e Fauré, além de Vitebsk, que mostra um Copland que pouco tem a ver com o compositor que mais tarde se dedicaria a recriar a paisagem americana em música.”
Coq é o porta-voz do grupo. Explica que a diversidade do repertório tem sido uma constância na vida do grupo – também não como algo planejado. Mas é preciso aqui voltar à origem de tudo: o nome do trio. Wanderer é uma homenagem a Schubert e a uma personagem-símbolo do romantismo. “O andarilho é aquele que deixa sua casa e parte em uma viagem para descobrir a si mesmo e ao mundo. Mas o importante é que ele não sabe para onde vai, está interessado na jornada. E nesse sentido fazemos uma relação com o trabalho do artista. Para nós, fazer arte é acreditar nesse caminho livre, na possibilidade de constantemente encontrar algo novo. Sem rotinas.”
O repertório para trio com piano desenvolve-se fundamentalmente durante o século 19, em especial na Alemanha. “É preciso gostar dessa música, ou então não vale nem a pena começar”, brinca Coq. “Mas com o tempo você vai justamente descobrindo o novo e sua importância. Na música de câmara, há algo especial: é nas formas intimistas que os compositores parecem se sentir mais à vontade para revelar suas verdades mais profundas. Ou seja, esse é um território que exige uma imersão completa, uma tentativa de compreensão do que é o ser humano. É o que temos feito. E esperamos continuar fazendo. Mas sem fazer grandes planos.” Deu certo até agora.
Programação
Phillipe Jaroussky. 24 e 25/4
Benjamin Grosvenor. 23 e 24/5
Potsdam Chamber Orchestra. 6 e 7/6
Royal Northern Sinfonia. 27 e 28/6
Orquestra Jovem das Américas. 1º e 2/8
Andras Schiff. 22 e 24/8
Quarteto Emerson. 12 e 13/9
Orquestra Nacional de Toulouse. 29 e 31/10
Cappella Mediterranea.13 e 14/11