A primeira referência musical da francesa Isabelle Geffroy, de 36 anos, foi o jazz mundial: Bobby McFerrin, Richard Bona, Tânia Maria, Chucho Valdés. Só mais tarde, quando começou a trabalhar como cantora, que ela descobriu a música francesa, quando as pessoas lhe pediam para cantar Edith Piaf, Charles Aznavour, Claude Nougaro, entre outras lendas. Isabelle, que se tornou conhecida com o nome artístico Zaz, bebeu nessas fontes para elaborar a própria música. Assim, ela transita de um hit cheio de vigor e frescor, como Je Veux, até clássicos como Paris Sera Toujours Paris, que revisitou no seu álbum Paris, belo projeto dedicado à cidade-luz. Faz a ponte entre a clássica chanson française e a nouvelle chanson.
Pela terceira vez no País, Zaz iniciou sua turnê Mise en Scène por Porto Alegre, onde se apresentou para mais de 2,5 mil pessoas, passando ainda por Rio e Brasília, e faz show neste domingo, 2, em São Paulo, no Espaço das Américas. “É um novo show, mistura do primeiro (ZAZ) e segundo álbum (Recto Verso) e do disco Paris. Fizemos novos arranjos para várias músicas, há até mesmo faixas de dubstep e eletropop”, afirma ela à reportagem. “Junto com Laurent Seroussi e Nicolas Gilli, dois poetas, conseguimos traduzir por meio do som e jogo de luzes meu universo onírico.”
Zaz subirá ao palco na mesma casa onde Charles Aznavour se apresentou recentemente. “Tenho um carinho enorme pela música francesa, pela poesia, como aqui é para vocês a saudade. Acho que somos todos apaixonados pela poesia, pelas canções de amor… É legal fazer um show no mesmo lugar que Charles, pois ele é um ícone da música francesa para nós também. Tive o privilégio de fazer um dueto com ele. Um cantor que se atualiza. Um grande artista!”.
Aznavour canta com Zaz na faixa Jaime Paris Au Mois de Mai, no álbum Paris, o terceiro da carreira dela, de 2014. O disco contou ainda com outras participações ilustres, como do produtor Quincy Jones. Como surgiu a ideia de tê-los nesse disco? “Tive um flash, como me acontece sempre. Eu disse à minha gravadora sobre chamar Quincy, eles riram na minha cara no início. E, então, eles finalmente tentaram e Quincy respondeu sim imediatamente. E Charles era evidente, regravei sua música, ele tinha que estar lá.”
Ela conta que Paris, o álbum, foi feito para os fãs, que sempre lhe pediram um álbum de músicas francesas antigas. E viu em Paris o título perfeito. “Foi muito prazeroso fazer esse álbum. Nos divertimos fazendo ele. Toquei com músicos incríveis, com big bands fabulosas, fiz turnês em festivais de jazz. Uma verdadeira experiência extraordinária. Penso em fazer novamente, mas agora estamos em outro espetáculo”, explica.
Projeção
Dona de uma voz grave marcante e uma presença vibrante no palco, Zaz se mudou de Bordeaux para Paris para investir na carreira na cantora. Ela se apresentou em cabarés e nas ruas. Os rumos da sua vida mudaram após ela atender a um anúncio de uma gravadora à procura de uma jovem que cantasse jazz. A canção Je Veux, de seu disco de estreia, Zaz, de 2010, a projetou.
“Tenho a impressão que essa música rodou o mundo. Ela veio num bom momento. Exprime muito bem o que eu estava sentindo, tinha acabado de deixar meu trabalho de cantora de um clube e me sentia funcionária da música. Estava entediada e não gostava mais do meu trabalho e saí sem saber como faria para pagar minhas contas”, lembra. “Tive confiança em mim mesma, procurei e não encontrei trabalho. Então, comecei a cantar nas ruas de Montmartre. Fiz bem, senão não teria respondido a um anúncio de internet que dizia: procura-se uma voz rouca e quebrada.”
Zaz vive em Paris e os ataques terroristas que a França, e sobretudo sua capital, têm sofrido nos últimos tempos não a fizeram desistir de continuar lá. “É nossa responsabilidade não dar poder a essas pessoas, para não entrar em medo e nos fechar em nós mesmos, mas, pelo contrário, redobrar a energia para criar e para fazer deste mundo o mais belo dos cenários”, diz Zaz. “Cada pessoa tem o poder de investir em ações cidadãs positivas. Penso que é dessa maneira que vamos ser a mudança que todos nós queremos. Criar laços e refletir juntos as novas perspectivas para a nossa sociedade, na educação, agricultura, viver juntos. Há muitas pessoas na França que se reúnem para isso e acho que é lamentável alguns meios de comunicação que transmitem informações catastróficas em vez de colocar em evidência todas essas ações cidadãs que nascem um pouco em todos os lugares do mundo, mais do que nunca.”
ZAZ
Espaço das Américas. R. Tagipuru, 795, 3864-5566, Água Branca. Hoje (2), 21h (abertura da casa, às 19h). Ingressos: R$ 140 / R$ 290
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.