A nova gestão da cidade de Guarulhos, do prefeito Guti (PSB), apresentou como slogan o seguinte lema: “Orgulho de ser Guarulhos”. Em tese, algo louvável, uma bela iniciativa de trazer as pessoas o orgulho de habitarem seu território, contudo, o verbo “ser” nos traz uma conotação de identidade, algo muito mais complexo do que simplesmente viver em determinada cidade. Afinal, do que se trataria ser Guarulhos? A História é uma ferramenta que pode auxiliar nessa difícil tarefa.
Nas últimas décadas, os historiadores vêm trazendo a baila discussões relativas à História local, à História urbana, suas metodologias, relações epistemológicas com a historiografia e sua metodologia de ensino, como forma de romper com o ensino da ultrapassada História tradicional, baseada apenas nos “grandes feitos”, nas datas e em generalizações. Entretanto, ainda falta um maior rigor acadêmico na fundamentação e criação de métodos de estudo e ensino de História local.
O ensino de História proposto pelos PCNs (Parâmetro Curricular Nacional) para o 1º e 2º ciclos –Ensino Fundamental– lei federal de 1996, está organizado a partir da ideia de que “conhecer as muitas histórias de outros tempos, relacionadas ao espaço em que vivem, e de outros espaços, possibilita aos alunos compreenderem a si mesmos e a vida coletiva de que fazem parte”, ou seja, o professor e os alunos devem construir conjuntamente a História local de onde estão inseridos.
É justamente nesse momento, que falta uma maior instrumentalização teórico-metodológica para definir claramente os conceitos de local, regional, de território, sendo adotado na contemporaneidade o parâmetro das unidades políticas e de poder, ou seja, os bairros e as cidades, todavia, poderiam ser utilizados outros parâmetros, como os culturais, econômicos, etc.. Talvez a dificuldade de responder a pergunta inicial a respeito da identidade guarulhense esteja no fato de que a cidade é um palco, um espaço definido através de uma construção social e histórica, onde múltiplos sujeitos, de diferentes identidades interagem e se relacionam como nos apontam os historiadores urbanos, sendo então da competência do historiador a análise dessas relações sociais.
O que há de mais palpável nessa construção das Histórias locais está na prática docente, onde o professor deve atuar como pesquisador, construindo, em conjunto com os alunos, esse conhecimento. Para tanto, o rigor metodológico está justamente nas premissas discutidas na historiografia e no método forjado a partir das contribuições de diversos historiadores do século XX. Partindo dos relatos trazidos pelos alunos, o professor deve apresentar novos sujeitos, cruzar diferentes fontes, como entrevistas, documentos e fotos encontrados em arquivos, entre outras, reconstituir a História local, demonstrando sua relação com a história de vida dos alunos e com a Macro-História. Com esse árduo trabalho, podemos nos identificar, entender a multiplicidade de identidades e sujeitos a que estamos submetidos e aperfeiçoar nossa noção espaço-temporal.
O ensino de História local nas escolas guarulhenses pode não ajudar a responder a pergunta gerada pelo slogan do prefeito, mas a necessidade e os benefícios que isso traria estão postos.
* Mestre em História, coautor do livro “Signo e Significados em Guarulhos: identidade, urbanização e exclusão” e autor de “Chagas da Exclusão” .