Não se trata apenas da presença de Tye Trujillo – cujo sobrenome você conhece do pai dele, Robert, baixista do Metallica -, mas a escalação de um músico de 12 anos, exatamente metade do tempo de estrada do Korn, diz muito sobre uma banda que ainda quer reafirmar seu espaço em um mundo que andou para frente desde o estouro dela, com o megassucesso soturno Freak on a Leash, do disco Follow the Leader, de 1998.
O fato é que o grupo liderado pelo vocalista Jonathan Davis jamais parou. Suas canções mais recentes ainda buscam, na essência, soar como outrora – como se integrantes de duas bandas, uma de heavy metal e outra de hardcore, fossem confinados em um quarto fechado e escuro e, enquanto perdem a sanidade, compõem músicas. Não é por acaso que desde Life Is Peachy, o segundo álbum deles, de 1996, o Korn sempre tenha seus discos figurando entre os 10 mais vendidos nos Estados Unidos nas suas respectivas semanas de lançamento. A essência é a mesma e a base de fãs se mantém suficientemente forte até hoje – The Serenity of Suffering, do ano passado, estreou na quarta posição.
Com esse trabalho, indicado para o Grammy neste ano, o grupo volta ao País para uma turnê que inclui apresentações em São Paulo (no Espaço das Américas, nesta quarta-feira, 19), Curitiba (no Live Curitiba, dia 21 de abril) e Porto Alegre (no Pepsi on Stage, dia 23).
A curiosa escalação de Tye Trujillo no posto de baixista da banda, substituindo Reginald Arvizu, o Fieldy, durante toda a turnê latino-americana, é mal explicada. No Facebook oficial da banda, o anúncio justificou a troca por “circunstâncias imprevistas”. O guri de 12 anos integra uma banda chamada Helmet, com integrantes da sua faixa etária. Estar ao lado de veteranos como Davis, James Shaffer, Brian Welch (ambos guitarristas) e Ray Luzier (baterista), é inédito e foi confirmado – no último domingo, 16, ele fez sua estreia pelo Korn, em show realizado na Colômbia.
Ao colocar o disco mais recente do Korn para tocar, ele ainda soará como passado. Tem aquele gostinho metálico, graças aos vocais ora roucos, ora gritados de Davis. Soam industriais e pessimistas, como se cantassem o fim do mundo como conhecemos e a rebelião das máquinas. Alguns chamam o som o Korn de “nu metal”, embora os integrantes não concordem com a denominação. Luzier, baterista desde 2007, prefere dizer que o Korn “não é uma banda típica de hardcore”. “Incluímos elementos de funk e hip-hop no som. É incrível que, ainda assim, a gente soe de forma tão única e original”, ele diz.
Em 2015, eles se apresentaram no Rock in Rio e provaram que mereciam um destaque maior na programação do evento ao reunir um número alto de pessoas diante do palco Sunset, o secundário do festival carioca, e roubar público do grupo Gojira, que produzia um som gutural e disforme na abertura do palco com estrutura para receber multidões.
“Algumas bandas querem escrever um hit e só receber os cheques”, avalia Luzier, sobre a longevidade da banda. “Não é isso que buscamos no Korn. Nós gostamos de tocar. Não importa o quanto cansados estejamos. Entregamos o nosso melhor. E os fãs continuam aparecendo.”
KORN
Espaço das Américas. Rua Tagipuru, 795, Barra Funda, tel.: 3864-5566. Hoje (19), às 21h. R$ 280 a R$ 500.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.