A Banda Lira, com seus quase 110 anos de musicalidade, canta e encanta os guarulhenses desde 1908, quando, reunidos no Largo da matriz, atual Praça Tereza Cristina, começaram a se reunir a fim de arrecadar fundos para a festa do Divino Espírito Santo. Segundo relatos, em 1903, da reunião entre amigos, já era perceptível a origem da banda. Atualmente é presidida por Lola Testai e pelo seu cunhado, maestro Américo Testai.
A história da banda é um marco, podendo ser um dos meios para a compreensão da história de Guarulhos. Não é um monumento, mas estaria aí um bom representante, pois está na bravura de seus anos, muito deles difíceis em sua sustentação, principalmente financeira, o seu legado de persistência. A cultura popular também é merecedora deste prestígio e não apenas alguns heróis nacionais escolhidos. Claro, há outras formas de se eternizar um bem e a banda é um Patrimônio presente no imaginário dos guarulhenses, na memória coletiva sendo fomentada para mais de um século. Principalmente se tratando de Patrimônio Imaterial, o qual se fundamenta na História Oral.
Presente em vários eventos importantes da cidade, divertiram festas, casamentos, retretas (festas em praças públicas). Da época em que ainda tinham muitas festas religiosas partindo da Catedral, lá estavam eles, empurrando a multidão. Há quem quisesse estar mais próximos para acompanhar a alegria dos músicos. Mas hoje, estão presentes em apenas alguns eventos, como no Baile da Melhor Idade e nas matinês que acontecem na tenda branca do Bosque Maia. E nesse último, despertando a alegria e a emoção dos mais novos aos mais experientes, é ali que as idades se conversam, que se trocam experiências, envolvidas nas pequenas fantasias do Ben 10 ou da Dora aventureira e nos rodopios dos experientes casais. São as experiências passadas de avós para netos.
O coreto da Praça Getúlio Vargas, palco de muitas apresentações da banda, hoje se tornou uma lenda, traduzida em sua aparência abandonada. Não seria a hora de retomar essa tradição? É a “ausência que se faz sentida”, como diria o historiador João Ranali, que dedicou um capítulo de seu livro “Repaginando a História“ à Banda Lira.
A Banda vem como um resgate de momentos da história, seja na de Guarulhos ou nacional. Sendo uma das primeiras bandas de São Paulo, traz as marchinhas carnavalescas e grandes nomes do samba, que fazem parte da cultura brasileira.
É por meio da ressignificação e das novas atribuições de valores que se permite um patrimônio estar presente, cabendo à sociedade civil lhe atribuir novos significados. É uma forma que os patrimônios, imateriais ou não, podem ser encarados, e há meios para isso, como a partir de programas de educação patrimonial do qual são lançadas ferramentas, fazendo com que haja essa interação.
Fonte: Arquivo Histórico Municipal de Guarulhos
Larissa Lucindo Fernandes é cidadã guarulhense e estudante de Arquitetura pela UNG e História da Arte pela UNIFESP.