O caminho para a construção da sensibilidade de cada indivíduo tem suas curvas particulares, trechos especiais e trilhas variadas. Seja no diálogo consigo mesmo, ou na vida em sociedade, o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade deu pistas dessa jornada íntima que inspirou a montagem de Havemos de Amanhecer, de João Paulo Lorenzon.
O espetáculo, que estreou no ano passado, volta agora à temporada neste sábado, 29, no Viga Espaço Cênico. O autor e diretor explica que não se trata de uma montagem sobre a biografia do poeta e suas obras, mas de um passeio pelos poemas O Elefante e A Máquina do Mundo.
O primeiro texto traz a viagem de um homem que se fantasia de elefante e sai para procurar amigos. “É uma jornada mais existencialista na qual a figura dialoga consigo mesma e tenta se relacionar com o mundo exterior.” Ele explica que, apesar de toda beleza e entusiasmo, o personagem fica perambulando por ter dificuldades de se comunicar. “É um eu lírico que reflete o nosso problema de dialogar uns com os outros”, conta ainda Lorenzon.
No palco habitado por seres com máscaras de elefante, a montagem também ganha a corporeidade dos movimentos da dança. “Aqui, há uma reviravolta”, diz. Um grupo de mulheres assume o lugar encarnando as forças da natureza, como o vento e as tempestades. O elefante também se concretiza numa escultura de arame e uma montanha de pétalas despenca sobre as bailarinas, em referência à grandiosidade encontrada por Drummond em “uma estrada de Minas, pedregosa”. “É uma forma de criar paisagens que descrevam esse percurso de descoberta de si mesmo.”
HAVEMOS DE AMANHECER
Viga Espaço Cênico. R. Capote Valente, 1.323. Tel.: 3801-1843. Sáb., 21h, dom., 19h. Estreia sáb., 29. R$ 60 / R$ 30. Até 25/6
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.