Variedades

Orquestra sul-africana comemora 20 anos

Rosemary Nalden estava indo do quarto para a cozinha em uma manhã de domingo quando algo no rádio lhe chamou atenção. Um conjunto de cordas tocava música em um programa normalmente destinado a notícias políticas. Poucos minutos depois, o locutor anunciava: tratava-se de um pequeno conjunto da África do Sul, o mesmo grupo que, dias depois, aparecia estampado na capa do jornal de domingo, falando de um trabalho que entendia a música como ferramenta social – e lidava com dificuldades financeiras para se manter funcionando.

Nalden, violista, tocava na orquestra de John Eliot Gardiner. Mas não demorou muito para, ao lado de alguns colegas, iniciar uma campanha de arrecadação nas ruas de Londres. E, pouco depois, embarcou para Johannesburgo para levar o dinheiro. A sensação da chegada a Soweto, conjunto de bairros a sudoeste da cidade, exclusivos para negros durante o apartheid, ainda permanece fresca na memória. “Era 1991 e ainda vivíamos o apartheid. Não era uma situação fácil. Os músicos estudavam em um banheiro, que outras pessoas entravam e utilizavam durante os ensaios”, diz.

O primeiro contato virou uma parceria, a princípio sazonal. Até que, em 1996, ela conta, Gardiner tirou um período sabático, deixando a orquestra sem trabalho – e Nalden retornou à África do Sul, onde tem chefiado a Academia Buskaid, cuja orquestra de cordas se apresenta hoje no Sesc Bom Retiro, com obras de Shostakovich, Sibelius, Rameau e canções populares africanas. O grupo acabou de receber, em maio, o Prêmio de Inovação em Música Clássica do ClassicalNext, importante conferência do setor, realizada na Holanda.

O projeto conta com 125 alunos, de idades entre 5 e 34 anos. Todos aprendem um instrumento, mas também se tornam professores, multiplicando o aprendizado. “Este é um projeto local, no sentido de que atuamos dentro da comunidade, para a comunidade”, explica Nalden. O propósito é duplo. De um lado, exercer influência positiva na vida de crianças e jovens. Mas Nalden não diminui a importância que o projeto tem para o próprio mundo da música clássica. “Há 20 anos, não havia negros em orquestras sinfônicas na África e, se havia, era no fundo do grupo. Hoje, a situação é diferente, eles integram os grupos, em posições importantes. Mas pelo simples fato de que têm talento o suficiente para isso”, explica ainda.

Essa é uma questão fundamental, ela explica. “O que a gente faz é apostar na qualidade artística, não há sentido em deixá-la de lado porque estamos em um projeto de forte caráter social. Estamos revelando talentos, de forma diferente, coletiva, mas, ainda assim, esses são músicos de qualidade que, por conta disso, vão conquistar grandes coisas em suas vidas e carreiras”, diz.

BUSKAID SOWETO STRING ENSEMBLE
Sesc Bom Retiro. Alameda Nothmann, 185, tel. 3332-3600.
5ª (dia 6), 20h. R$ 30.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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