A capa da edição de 08/12/1976 trazia como título em letras garrafais “Uma cidade em mudança”, a foto que cobria quase metade da página foi tirada do alto e focalizava a antiga Câmara Municipal de Guarulhos. A junção entre título e imagem insinua que a mudança vinha da administração política do município. O prefeito era Waldomiro Pompêo.
Também foram destacadas as matérias “Telefone, presentes que não veio no dia do aniversário”, “A história de Guarulhos, com seus bairros” e, “As soluções para um trânsito caótico. E suas dificuldades”.
A matéria “Telefone, presentes que não veio no dia do aniversário” fala sobre cerca de seis mil famílias que compraram o carnê da Telesp (operadora de telefonia de São Paulo) e esperaram a ligação da estação 20814, mas tiveram as pretensões frustradas, pois, as linhas só estariam funcionando entre o dia 20 e 30/12/1976.
O texto ainda ressalta que na época havia 7.140 linhas telefônicas em território guarulhense, segundo a Folha Metropolitana, o serviço de telefonia era um dos graves problemas da cidade. Essa matéria tem um teor negativo sobre a não instalação das linhas, mas ressalta que a Telesp quase duplicou o número de telefones. Guarulhos estava atrasada na questão tecnológica, para fazer ligações interurbanas era necessário o auxílio da telefonista. Enquanto na região do ABC, os usuários faziam ligações diretas.
As informações sobre as linhas telefônicas só citam a assessoria de imprensa da Telesp como fonte. O texto não critica o órgão e nem um governo específico. A população não foi ouvida para expor os problemas de comunicação.
No livro “A modernização da Imprensa”, no capítulo sobre o período da ditadura militar, o papel do governo é destacado por promover a modernização dos meios de comunicação e as telecomunicações. Segundo Alzira Alves de Abreu, “A implantação de um sistema de informação capaz de ‘integrar’ o país era essencial dentro de um projeto em que o Estado era entendido como o centro irradiador de todas as atividades fundamentais em termos políticos” (ABREU, 2002: 15).
Neste artigo, podemos refletir em dois pontos estratégicos para a ditadura militar que comandava o país: a imprensa e a telefonia. Guarulhos já era uma cidade industrial como as cidades do ABC, porém, estava atrasada na questão da telefonia. Mas mesmo assim, a FM não traz uma crítica e nem a opinião de um munícipe, que poderia expor as dificuldades para fazer ligações ou encontrar telefones públicos. A própria matéria enaltece a duplicação da rede em dois anos.
Bruno é jornalista, responsável pela assessoria de comunicação da AAPAH, coautor dos livros “Guia Histórico Cultural de Logradouros – Lugares e Memórias de Guarulhos” e “Signos e Significados em Guarulhos: Identidade – Urbanização – Exclusão”.