Autor do premiado romance O Sonâmbulo Amador, semifinalista da edição atual do Prêmio Oceanos com O Marechal de Costas e professor de literatura na Universidade da Califórnia (Ucla), o pernambucano José Luiz Passos sempre alternou ficção com não ficção. Em Antologia Fantástica da República Brasileira, que ele lança neste sábado, às 15h, na Blooks (Shopping Frei Caneca), ele experimenta algo diferente.
A obra nasceu de uma encomenda do Selo Pernambuco, que queria uma antologia tradicional sobre o período, mas o projeto tomou outros rumos. “Vejo o livro como uma espécie de baú de memórias ligadas ao meu imaginário sobre a relação – ou a mistura, a confusão – entre família e República”, conta. Sem enredo ou fio que ligue os eventos, é um livro diferente dos que já escreveu. “E é diferente também por dar um passo adiante rumo ao apagamento – na minha escrita – das fronteiras entre o ensaio crítico e a narrativa ficcional. Era um desejo antigo, que resultou num livro arriscado e compósito”, completa.
Passos escreveu parte do livro durante uma residência literária que fez em julho, na Usina da Arte, na Usina Santa Therezinha, em Água Preta, pertinho de Catende, onde ele nasceu em 1971 e de onde saiu em 1974. “Como em toda visita às origens, ela foi intensa – literária e psicanaliticamente – e bela, mas profundamente dolorosa.”
A outra obra que o autor lança em sua passagem pelo Brasil é A Órbita de King Kong, um livro artesanal produzido pela Quelônio com ilustrações de Raquel Barreto. “Há muito que queria escrever a biografia de Ham, o chimpanzé da República de Camarões que a Nasa usou em 1961 para testar a cápsula do Projeto Mercury 2. Quando li os relatórios sobre a missão de Ham, encontrei ali uma identidade curiosa com a situação de saúde pela qual passava, durante o tratamento de quimioterapia.”
A obra é dedicada à Cecília, filha do autor que mostrou a ele a cápsula de Ham, hoje exposta no Museu de Ciência e Tecnologia da Califórnia. “É meu projeto mais pessoal, mais doméstico, sobre voltar para casa depois de deixar para trás um obstáculo que parecia absolutamente incontornável.” O lançamento será segunda, 18, às 1 h, no Bar Balcão (Rua Melo Alves, 150).
Apesar de uma aparente distância, há diálogo entre os livros. O autor explica: “Vejo os dois como um modo de abordar a questão da fragilidade do indivíduo diante de demandas ou anseios que são da ordem da vida coletiva ou pública. No primeiro caso, Ham encontra-se diante de uma missão que não compreende, que não escolheu e que o coloca – perante o progresso científico – como um herói a contragosto. No caso da Antologia, há várias situações em que indivíduos (vozes, personagens, narradores) encontram-se sozinhos ou silenciados, diante da Lei, diante do Estado, da Coroa, do patrão, ou mesmo dos imperativos políticos de uma revolução justa, porém fracassada”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.