Variedades

Mostra de Vittorio Storaro convida o público para uma jornada de revelação

Quando se despediu do repórter, Vittorio Storaro prometeu – “Nos veremos em outubro”. Nesta quinta-feira, 21, em plena montagem da megaexposição Escrever com a Luz, na Oca do Ibirapuera, seu filho, Giovanni Storaro, confirmou. “Embarco logo após a abertura para Nova York e volto com ele no final de outubro. Ficaremos pouco, mas papá, que não pôde vir agora, faz questão de vir para o encerramento.” A ideia da exposição veio de Giovanni. Seu pai aderiu.

O título, na verdade, é mais extenso. Storaro: Escrever com a Luz – Dupla Impressão Entre Fotografia e Cinematografia. A exposição não deixa de ser uma espécie de súmula – ou será culminação? – da trilogia de Storaro para a Editora Mondadori. Luz, Cores e Elementos. Tal como montada por Giovanni, que exerce a curadoria com a irmã, o espectador é convidado a fazer um percurso circular, no interior da Oca. Três círculos que ultrapassam os conceitos da imagem e da busca filosófica que anima a produção do grande Vittorio – três Oscars! – e ainda possibilitam o acesso a seu particular discurso sobre a fotografia. Apesar da importância que as imagens têm em nossas vidas – vivemos a civilização da imagem, dizem os teóricos -, Vittorio Storaro acredita, no íntimo, que elas contêm um enigma que talvez nunca seja decifrado.

Mas ele tenta, desde que, naquele momento de dúvida, ainda jovem, teve a revelação da pintura de Caravaggio, A Vocação de São Mateus, numa pequena igreja de Roma. O percurso começa ali, com a imagem em preto e branco de Giovinezza, Giovinezza, o longa inicial, de Franco Rossi, lado a lado com a reprodução do Caravaggio. Palavras de Storaro (pai) – “Essa é a essência do meu projeto de vida, uma enciclopédia dedicada aos filósofos, pintores e cientistas que se dedicaram ao estudo do enigma da visão”. O percurso divide-se em seções, e cada uma delas expressa um período dos 30 anos de pesquisa, observação e interação das intersecções entre luz, cor e elementos.

Essa estrutura linear abrange os grandes mestres pintores que inspiraram o trabalho de Vittorio. A primeira fase representa o passado e constrói a passagem da sombra para a luz. A segunda é o presente e desenha, por meio da cor, a progressão do vermelho da sua origem até o violeta, penúltimo estágio antes do branco que vai somar todas as cores. A terceira e última etapa projeta-se no futuro, com a transformação da matéria em energia. É um percurso ao mesmo tempo científico, filosófico e artístico. Por meio de todas essas imagens, Giovanni Storaro, como curador, nos permite compartilhar a busca de seu pai. O limite é sempre a história que ele e os grandes diretores com quem trabalha querem contar. A fotografia, segundo Storaro, mesmo estática, permite inserções/superposições que dinamizam a imagem.

E tudo volta ao que lhe dizia o pai projecionista, quando Vittorio era menino – os filmes são feitos de imagens fixas que adquirem movimento a uma determinada velocidade. Mas isso só ocorre por causa da luz, e porque o olho humano não capta o escuro entre um quadro e outro. Pode até ser que Vittorio Storaro não decifre o enigma, mas compartilhar sua inquietação é algo que toca o sublime. O divino.

STORARO: ESCREVER COM A LUZ
Pavilhão da Oca. Pq. do Ibirapuera. Av. Pedro Álvares Cabral, s/n, portão 3. 9h/18h. (fecha 2ª). Grátis
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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