A bossa nova tornou-se um cartão de visitas do Brasil – em qualquer ponto do planeta, é possível encontrar alguém que conheça ao menos a batida de canções clássicas como Garota de Ipanema (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) ou Samba de Uma Nota Só (Jobim/Newton Mendonça). “E, apesar de sua aparente simplicidade, sua melodia é complexa e exige um perfeito entendimento de seu intérprete”, comenta Myra Ruiz, atriz que integra Garota de Ipanema, o Musical da Bossa Nova, que estreia nesta sexta-feira, 22, no Teatro Opus.
Trata-se de um agradável passeio por esse movimento que se tornou um dos mais influentes da MPB graças a seus acordes de violão, simples e revolucionários. Uma ação que nasceu entre amigos, jovens da zona sul carioca do final dos anos 1950, cuja intenção inicial não passava de um detalhe menos inovador e mais cotidiano: combater a tristeza que reinava nas canções nacionais, uma eterna dor de cotovelo.
O espetáculo que chega a São Paulo tem parentesco com outro, Garota de Ipanema, o Amor É Bossa, que estreou no Rio em setembro do ano passado. “Para a temporada paulista, decidimos colocar a música à frente da ficção, como um musical show. Temos uma nova equipe criativa, mantendo a essência da bossa nova no espetáculo”, conta Aniela Jordan, sócia da produtora do musical, a Aventura Entretenimento, ao lado de Fernando Campos, Luiz Calainho e Patrícia Telles.
De fato, além de Myra, o elenco é formado por outra estrela de Wicked, Fabi Bang, além de Cláudio Lins, Marcelo Varzea, Nicola Lama, Andrea Marquee, Ariane Souza, Eduarda Fadini, Jhafiny Lima e Tadeu Freitas. O musical é dividido em quatro partes. Na primeira, são abordadas as histórias e curiosidades sobre o nome “bossa nova”. Na segunda, o destaque são a origem do estilo musical, as influências do passado e como o cenário musical brasileiro propiciou o surgimento do movimento. Já o terceiro bloco trata dos costumes dos artistas da época e os locais onde os artistas se reuniam para criar. Por fim, a última parte mostra como a bossa nova ganhou o mundo.
Com direção de Sérgio Módena, que também assina o texto com Rodrigo Faour, os artistas interpretam composições que ficaram na memória afetiva de toda uma geração. “Gosto desse formato bastante informal, no qual os cantores são, antes de tudo, contadores de histórias”, observa Módena. “A bossa nova é um estilo livre, descontraído e leve. E são esses aspectos que dão o tom do espetáculo.”
A montagem também é encarada como um desafio pelo elenco. “Quero mostrar que também canto músicas brasileiras”, conta Fabi Bang que, em uma carreira com mais de dez anos, se aprimorou no estilo Broadway ao participar de montagens de clássicos como O Fantasma da Ópera e Kiss me Kate – O Beijo da Megera. “Por ter vivido no Rio durante quase toda minha vida, tenho familiaridade com o repertório da bossa nova, que traduz um momento em que a cidade era mais romântica”, diz.
Já os atores que participaram da montagem carioca apontam as diferenças. “O espetáculo do Rio era marcado por uma ficção e a bossa nova e sua época eram um pano de fundo”, comenta Cláudio Lins, filho de um dos expoentes do movimento, Ivan Lins. “Agora, são histórias da bossa nova, algumas até pequenas, que são ilustradas por canções.”
Já o desafio apontado por Myra Ruiz e Fabi Bang de interpretarem canções em um estilo diferente do utilizado nos musicais a la Broadway é também identificado por Lins. “A voz percorre outro caminho”, comenta. “Não se solta a voz para cantar bossa nova, pois existe um lugar menor, tecnicamente falando, que, embora pareça muito fácil, é um lugar mais difícil, especialmente para os homens. Gosto de lembrar do comentário de um baterista histórico, Paulinho Braga, que durante anos tocou com meu pai e com o Jobim, e que dizia: Se você suar ao tocar bossa nova, é sinal de que está tocando muito.”
Na variedade de estilos que marcam os diversos membros do elenco, um destaque é a presença de um italiano, Nicola Lama. Vivendo no Rio há mais de dez anos, ele está ciente do desafio, pois a bossa nova se difundiu por todos os continentes durante as décadas de 1950 e 1960. “Muitas dessas canções chegaram na Itália, principalmente as que melhor caracterizam a bossa nova, que foi o gênero levou o Brasil para grandes plateias mundiais, nos EUA, Europa”, conta Lama, cujo vestígio de sotaque confere um tom simpático à sua performance.
Em sua quinta participação em uma produção da Aventura, Nicola Lama acredita que foi chamado justamente por conta de seu indisfarçável debate. “A bossa nova foi contaminada por outros gêneros, como o jazz, e artistas brasileiros, como Jobim, trabalharam com americanos como o Sinatra. Assim, o diretor (Sérgio Módena) se aproveitou dessa internacionalidade do repertório para me convocar”, disse o italiano, agora com uma certeza. “Se me chamaram para um musical sobre a bossa nova, é sinal de que meu sotaque melhorou.” (Colaborou Grazy Pisacane)
GAROTA DE IPANEMA,
O MUSICAL DA BOSSA NOVA
Teatro Opus. Shopping Villa Lobos. Av. das Nações Unidas, 4777. 6ª, 21h30. Sáb., 21h. Dom., 20h30. R$ 50 / R$ 160. Estreia nesta sexta (22)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.