Morris Cox (1903-1998) é um nome desconhecido no mercado editorial brasileiro, mas a Feira Miolo(s) e a Lote 42 querem mudar isso: o editor, poeta e ilustrador inglês é o homenageado da próxima edição do evento, que ocorre no dia 11 de novembro novamente na Biblioteca Mário de Andrade, no centro de São Paulo. Além disso, em parceria com o designer gráfico Gustavo Piqueira, a editora vai lançar uma coleção, Gráfica Particular, recuperando histórias inspiradoras de editores e estabelecendo diálogos com o presente. O primeiro livro é justamente Gogmagog!: Morris Cox e Sua Gogmagog Press, que conta a incrível história do editor, e será lançado na Miolo(s).
O fato de o trabalho de Cox ser inclassificável talvez seja um dos motivos pelos quais a história lhe renegou a fama, segundo Piqueira. O artista brasileiro estava há três anos num sebo de Londres dedicado a trabalhos associados ao movimento Private Press quando esbarrou com os livros de Cox: uma mistura criativa de texto, ilustração e processo de impressão, em que nenhum dos três elementos se sobrepõe ao outro, mas, pelo contrário, se complementam a ponto de criar uma obra de arte arrojada e original.
Em um dos livros, CRASH!, de 1963, Cox enumera técnicas de impressão que usou naquelas páginas. “Um circulo de vidro chanfrado sobre o qual é prensada uma tinta fluida; o mesmo vidro, cuidadosamente quebrado com seus pedaços levemente separados antes de serem impressos (…); Pássaros em cartão e papel crepom. Tela de arame impressa sobre o cartão e removida. Entalhe; (…) Disco entintado com pincel. Fundo levemente borrifado com gasolina antes da impressão.”
Cox fundou a Gogmagog em 1957 (aos 54 anos), depois de estudar artes e literatura, trabalhar por anos em agências de publicidade e produtores de moda, e de se voluntariar numa instituição civil de resgate durante a Segunda Guerra. Toda sua produção literária e como editor, mais de 70 livros, foi lançada pela sua própria companhia. Tudo foi feito em sua casa, com máquinas de impressão muitas vezes fabricadas por ele mesmo. Quando ele perdeu a força para o trabalho manual de impressão, passou a utilizar uma fotocopiadora comum. Com tiragens limitadas, de 50 a 100 exemplares em média, hoje os livros são objetos de culto e uma coleção de alguns deles pode custar £ 10 mil.
São duas chances de observar e conhecer mais sobre o trabalho do editor: no dia 7 de novembro, Piqueira vai mostrar e conversar sobre os livros, como parte do Esquenta Miolo(s), às 19h, no terraço da BMA. Na feira, no dia 11, os livros da sua coleção estarão expostos.
Uma das histórias que estão em Morris Cox e Sua Gogmagog Press é a de quando Cox enviou, em 1938, um livro para a Faber & Faber (uma colagem de textos vitorianos, com as frases rearranjadas, uma “antinovela”), que recusou alegando que não havia “mercado para o livro”. Meses depois, a editora publicou o Finneganns Wake, de James Joyce.
Como dito acima, o livro faz parte da nova coleção da Lote 42, a Gráfica Particular, que pretende recuperar histórias de editores. “A ideia é olhar para o hoje”, diz Piqueira à reportagem, na Casa Rex, no Pacaembu. “O que diferencia os nossos livros de um registro acadêmico é que o foco é mais do que ser material de pesquisa, é uma afirmação de que faz sentido olhar hoje para o trabalho dessa pessoa.” De acordo com ele, é importante que jovens editores conheçam esses trabalhos para poder expandir os limites das próprias criações com mais ousadia.
“Em relação ao Cox, é impressionante notar como ele relaciona texto, imagem e produção de cada livro de um jeito específico, extraindo uma coisa única da soma dos três. É difícil achar coisa parecida”, diz Piqueira, conhecido ele mesmo por fazer livros que tomam o processo de edição e publicação como parte integrante da obra.
GOGMAGOG!: MORRIS COX E SUA GOGMAGOG PRESS
Autor: Gustavo Piqueira
Editora: Lote 42 (R$ 42)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.