Em uma sessão conturbada, com a presença do escritor Mario de Andrade, na pele do ator Paschoal da Conceição, cantorias e gritos de fascistas, 15 conselheiros do Condephaat deram vitória à empresa Sisan, do apresentador e empresário Silvio Santos, para a construção de duas torres residenciais de 100 metros de altura ao lado do Teatro Oficina, no Bexiga. Apenas sete conselheiros foram contra. A decisão levou um clima de velório ao teatro do diretor José Celso Martinez Corrêa, que no último sábado comemorava os 50 anos da primeira montagem da peça O Rei da Vela, de Oswald de Andrade.
Encerrada a votação, todos os conselheiros do Condephaat correram para a saída, como se fugissem da turba que ocupava o auditório, cerca de 40 pessoas que passaram, com o resultado, a se manifestar contrárias à decisão. O presidente do órgão, Carlos Augusto Mattei Faggin, empossado este ano, não votou e foi questionado pelos manifestantes.
A decisão contraria a determinação do próprio órgão estadual que há um ano havia rejeitado o pedido do dono do SBT. Para construir as torres, a Sisan, agora, precisa destombar o Oficina, cujo projeto é de Lina Bo Bardi e Edson Elito, em duas outras instâncias: a federal, no Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), e a municipal, no Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental). A área ocupada pelo Bexiga responde por um terço dos tombamentos da cidade de São Paulo.
O advogado do Teatro Oficina, Márcio Sotelo Felippe, está estudando medidas possíveis que possam reverter a decisão. “Com todo respeito ao Condephaat, o relator do processo, Fabio André Uema, desconsiderou regras específicas do próprio tombamento feito pelo órgão”, disse. Em agosto, como adiantou o Estado, logo após uma tentativa de conciliação de interesses entre o Grupo Silvio Santos e José Celso Martinez Correa, promovida pela Prefeitura, o diretor do Teatro Oficina denunciou o apresentador do SBT em seu blog por oferecer a ele R$ 5 milhões para que desistisse de brigar pelo terreno. A proposta, segundo Martinez Corrêa, foi feita durante uma ligação telefônica e imediatamente recusada. (Colaborou Fabio Leite)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.