A Feira Miolo(s) só tem quatro anos de existência (“só” é maldade da reportagem), mas já se consolida como uma das mais importantes do cenário de editoras independentes no Brasil, sejam as dedicadas à literatura em si, sejam as voltadas para as artes gráficas. A edição 2017 cresceu, tem mais de 150 casas editorais de várias regiões, e ocorre neste sábado, 11, na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, com entrada gratuita.
O espaço expositivo deste ano cresceu e permitiu o aumento de quase 40% no número de editoras. Uma intervenção do diretor da Mário de Andrade, Charles Cosac, com os bombeiros, permitiu que o 1º e 2º andar do prédio na Consolação também fossem ocupados, de acordo com João Varella, editor da Lote 42 e um dos organizadores e curadores da Miolo(s).
“Abrimos a convocação de editoras em agosto, e mesmo com um prazo apertado, mais de 400 editoras se inscreveram, do Brasil inteiro e de fora, tem gente da Argentina”, diz Varella. “Para o ano que vem, vamos pensar em eventos à parte, como uma forma de evitar a concentração toda em um dia só.” Ele se refere especialmente à Miolinho(s), novidade deste ano: um espaço pensado e dedicado a publicações voltadas ao público infantil, que em 2018 deve ganhar vida própria.
Quem já foi à Miolo(s) sabe que as editoras trazem livros de literatura, fotografia, de artista, quadrinhos, produções gráficas criativas e muita coisa relacionada a esse universo.
“O independente virou um tema muito amplo: desde a literatura marginal até a nova onda de artes visuais, poesia independente, que é super rejeitada no mainstream, e por aí vai”, atesta o editor, reforçando que outras áreas artísticas, como performances e música, começam a se integrar cada vez mais com o universo das publicações.
Além das editoras que colocam seus trabalhos em exposição, a Miolo(s) tem toda uma programação de falas e palestras. A primeira é justamente de Varella, às 12h, com o tema “Arte impressa, onde está e para onde vai”. Aí de hora em hora um convidado fala sobre temas diferentes, que passam pela cena de quadrinhos independentes na Inglaterra, literatura infantil, práticas artísticas na publicação de livros, edição artesanal, tipografia e outros. Entre os palestrantes, nomes como Gustavo Piqueira, Lielson Zeni, Maria Clara Carneiro e Regina Melim. Toda a programação de palestras será transmitida ao vivo pela web, no canal do Youtube e na página do Facebook da Lote 42.
Um dos destaques desse ano deve o ser o “Mongaço”: cinco artistas se revezam, fantasiadas de Monga, numa clínica de psicanálise improvisada, para ouvir as lamúrias de “editores desesperados e leitores com dor de cotovelo”, como brinca o curador.
Na programação também há performances de teatro, leitura para crianças, oficinas e discotecagem do duo DiMangaba, interrompida também de hora em hora por um poeta (nomes como Ana Guadalupe, Fabiano Calixto e Joca Reiners Terron). Às 22h, o músico Enzo Banzo lança no auditório o disco Canção Escondida, com poemas de Alice Ruiz, Paulo Leminski e Marcelino Freire, entre outros.
O homenageado desta edição da Miolo(s) é o editor, poeta e ilustrador inglês Morris Cox (1903-1998), nome ainda pouco conhecido no mercado editorial brasileiro. Em parceria com o designer gráfico Gustavo Piqueira, a Lote 42 lança na Feira a coleção Gráfica Particular, recuperando histórias inspiradoras de editores e estabelecendo diálogos com o presente. O primeiro livro é justamente Gogmagog!: Morris Cox e Sua Gogmagog Press.
Cox fundou a Gogmagog em 1957 (aos 54 anos), depois de estudar artes e literatura, trabalhar em agências de publicidade e se voluntariar numa instituição civil de resgate na Segunda Guerra. Toda sua produção literária e como editor, mais de 70 livros, foi lançada pela sua própria companhia. Tudo foi feito em casa, com máquinas de impressão muitas vezes fabricadas por ele mesmo. Com tiragens limitadas, de 50 a 100 exemplares, os livros são objetos de culto e uma coleção pode custar £ 10 mil – alguns deles estão expostos hoje, na Mário de Andrade.
FEIRA MIOLO(S)
Biblioteca Mário de Andrade. R. da Consolação, 94, metrô Anhangabaú, 3775-0002. Sáb. (11), 11h/23h. Grátis.