O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, admitiu que a volatilidade das últimas semanas no câmbio está acima do que o BC gostaria. Segundo ele, a volatilidade atual do câmbio incomoda a autoridade monetária.
"De fato, é algo que incomoda e tentamos entender. Nossos instrumentos não são feitos para atuar nessa volatilidade de curto prazo, mas vamos ver se há algo que podemos fazer para atuar. Antes de adotar o remédio, precisamos entender qual é a doença que tem como sintoma essa volatilidade elevada", completou Serra.
Ainda assim, o diretor reforçou que o BC tem capacidade para atuar no mercado em qualquer direção. "O Banco Central tem um buffer de reservas mais que suficiente para manter a funcionalidade do mercado", ressaltou.
Serra argumentou que o fluxo de saída de capitais do Brasil foi superior ao de outras economias emergentes devido às fragilidades fiscais do País.
"Estamos tentando manter o câmbio funcional ao longo do processo. Mudamos o patamar do juro básico brasileiro e isso afeta as decisões de hedge de famílias e empresas. Quase um terço da posição de overhedge foi reduzida entre março e maio", afirmou ele, em videoconferência organizada pela XP Investimentos.
<b>Perfil do investidor</b>
O diretor de Política Monetária do Banco Central avaliou que a volatilidade de curto prazo no câmbio pode estar ligada a novo perfil de investidor pessoas físicas, que ele classificou como saudável. "Há um fenômeno global de pessoas físicas operando em mais intensidade, com contratos menores de curto prazo", afirmou.
Para o diretor, uma alternativa para conter essa volatilidade seria o BC atuar nas duas direções do mercado de câmbio. "Mas isso não seria favorável. Atuar nos dois lados do câmbio pode ter mais ônus que benefícios", ponderou.
Serra reiterou que o BC não encontrou ainda motivos palpáveis para explicar a maior volatilidade do real em relação a outras moedas emergentes. "Estruturalmente não há razão para real ter essa volatilidade maior", repetiu.
<b>Modernização</b>
O diretor de Política Monetária do Banco Central avaliou ainda que o projeto de modernização cambial do BC tem grandes chances de ser aprovado pelo Congresso ainda em 2020. "Temos ainda uma avenida ainda até a conversibilidade do real. Esse é um norte a ser perseguido e devemos caminhar para ela, mas vai levar um bom tempo. Não está claro se vai ser em um horizonte de poucos anos, acho que o prazo será mais dilatado", afirmou.
Segundo ele, porém, somente o projeto de modernização cambial já irá ajudar bastante o setor produtivo. "Há o ônus grande no dia a dia das empresas que até explica porque somos uma economia fechada até hoje. Temos bastantes avanços para fazer antes da conversibilidade da moeda. Tomara que ela chegue lá na frente com o País mais organizado", completou.
<b>Autonomia</b>
Serra disse estar ainda otimista com a aprovação do projeto de autonomia do BC em pelo menos uma das casas do Congresso em agosto. Ele lembrou que o projeto inclui os chamados depósitos voluntários que, segundo o diretor, não devem substituir completamente as operações compromissadas, pode ajudarão a tarefa da política monetária.
<b>Política monetária</b>
O diretor de Política Monetária do Banco Central voltou a dizer que os choques de liquidez e fiscal decorrentes da pandemia de covid-19 tiveram magnitude inédita, superior à crise financeira internacional de 2008. Ele lembrou, no entanto, que o sistema financeiro global foi remodelado para suportar crises como aquela.
"Essa é a primeira crise que ocorre após a construção dos buffers de Basileia e a agora os reguladores em todo o mundo estimulam os bancos a usarem esses buffers. Isso permitiu ao sistema financeiro ampliar o crédito, ao invés de reduzir, como ocorreu em 2008", afirmou ele na videoconferência organizada pela XP Investimentos.
Ao iniciar sua apresentação, Serra ressaltou que o objetivo da fala no evento não é passar mensagens de política monetária diferentes das que já estão nos comunicados do BC. "O Banco Central já mencionou na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom) que a queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 pode não ser tão grande quanto se imaginava", completou.
<b>Concordância</b>
O diretor de Política Monetária do Banco Central avaliou que as divergências de pensamento entre os diretores do BC não são grandes e não têm gerado dissenso nas decisões do Copom. "De fato, temos um grupo mais eclético, com formações mais distintas que de diretorias passadas. E isso é positivo. Temos óticas diferentes, mas no fim temos concordado de maneira sistemática na parte substancial. De modo geral estamos alinhados", afirmou.
Todas as decisões do colegiado sob o comando de Roberto Campos Neto à frente do BC ocorreram de maneira unânime.
Serra repetiu que a última decisão de política foi baseada no cumprimento da meta de inflação e em um certo otimismo com a recuperação da economia. "Os documentos da última reunião mostraram que o espaço de decisão de política monetária é residual, e isso está sendo reforçado aqui pela minha fala", completou.
<b>Inflação</b>
O diretor de Política Monetária do Banco Central destacou a importância de se entender tamanho do hiato do produto para as próximas decisões sobre a taxa básica Selic.
Segundo ele, a discrepância entre a recuperação dos diversos setores da economia será importante para a projeção da inflação no horizonte para 2021. "Não estamos muito preocupados com inflação para 3 a 6 meses", afirmou.
Serra evitou fazer avaliações mais detalhadas sobre os próximos passos da política monetária. "Mais próximo da reunião do Copom sentamos, bloqueamos toda a agenda, e passamos os dias debatendo a conjuntura de curto prazo", respondeu. "Todos os acontecimentos são muito novos e estamos aprendendo", completou.