Desde 2013, Tônia Carrero vivia reclusa. Seu filho, Cecil Thiré, havia confirmado que a mãe sofria de uma doença grave que lhe impedia de andar e se comunicar. Mas não foi isso que a matou. Tônia havia sido internada na Clínica São Vicente, no Rio, para um procedimento simples, para o tratamento de uma úlcera, mas teve uma parada cardíaca no sábado, dia 3, à noite e não resistiu. Tinha 95 anos. Foi velada neste domingo, 4, até 22 h, no hall do Theatro Municipal, em plena Cinelândia carioca. Nesta segunda-feira, dia 5, será cremada no cemitério do Caju. A cerimônia foi adiada para permitir que familiares que estavam no exterior retornassem ao País.
Grande Tônia. Foi certamente uma das mulheres mais belas do seu tempo, uma beleza nórdica que a levou a ser comparada a Ingrid Bergman e impulsionou sua carreira. Em 2017, completaram-se 70 anos de sua estreia – tinha 24 quando fez, na Vera Cruz, Querida Susana, com direção do italiano Alberto Pieralisi. Não é um filme que disponha de boa reputação – chegou a ser considerado o pior de 1947, mas Tônia é um assombro e contracena com o maior galã da época, Anselmo Duarte. Cinco anos depois, Tônia e Anselmo fariam dupla em Tico-Tico no Fubá, e desta vez a receptividade foi estrondosa. O filme dirigido por outro italiano, Adolfo Celi, ostenta até hoje a reputação de ser um dos melhores da Vera Cruz.
Tônia nasceu Maria Antonietta de Farias Portocarrero, no Rio, em 1922. Filha de um general, neta de um marechal, a garota graduou-se em Educação Física. A arte pode não ter vindo diretamente do primeiro marido, o artista plástico Carlos Arthur Thiré, com quem teve o filho Cecil Thiré. Mas acompanhá-lo quando foi viver na França permitiu a Tônia estudar interpretação em Paris. Estreou em 1949 no Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC, em São Paulo, em Um Deus Dormiu Lá em Casa, com Paulo Autran. Já separada de Thiré, e casada com Celi, fundaram a CTCA – a Cia. Tônia-Celi-Autran, que seria decisiva para o desenvolvimento do teatro brasileiro dos anos 1950 e 60.
Se tivesse nascido na Europa, com certeza teria sido chamada para fazer carreira em Hollywood. No cinema, e às vezes de forma espaçada, participou de filmes como Quando a Noite Acaba, Apassionata, É Proibido Beijar, Mãos Sangrentas, Esse Rio Que Eu Amo, Gordos e Magros. Um grande papel foi em Sonhos de Menina Moça, de Teresa Trautman, de 1987, como a matriarca que reúne a família pela última vez, na casa que será demolida em breve. No teatro, com sua beleza e tipo aristocrático, Tônia participou de montagens que fizeram história, com diretores como Ziembinski, Celi, Gianni Ratto e Maurice Vaneau. Em 1968, algo se passou e Tônia, com direção de Fauzi Arap, teve um choque de realidade como a prostituta Neusa Suely de Navalha na Carne, o texto emblemático de Plínio Marcos. A partir daí vieram seus talvez maiores papéis – em Casa de Bonecas, de Ibsen; Doce Pássaro da Juventude, de Tennessee Williams; Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, de Edward Albee; A Visita da Velha Senhora, de Friedrich Dürrenmatt.
Na TV, brilhou, na Globo, em Uma Rosa com Amor, Cara a Cara, Água Viva, Sassaricando, Sangue do Meu Sangue, Senhora do Destino. Uma grande atriz que deixou sua marca na história da dramaturgia brasileira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.