Produtor musical, jornalista e ex-jurado de programas de TV como Ídolos e Astros, ambos do SBT, Carlos Eduardo Miranda morreu aos 56 anos, vítima de mal súbito após sentir fortes dores de cabeça, na noite de quinta-feira, 22 – um dia depois de fazer aniversário -, em São Paulo.
Nascido em Porto Alegre, Miranda, quando jovem, chegou a ter de quatro a cinco bandas na cidade, e ajudou a fomentar a cena roqueira de lá. Em 1988, veio para São Paulo assistir a um show do Iggy Pop. E acabou ficando. Militante dentro do cenário da música independente, sempre gostou de garimpar talentos ?que, muitas vezes, pairavam despercebidos, e os levava à luz do grande público.
E era sobre grupos independentes que ele escrevia quando passou a trabalhar na extinta revista Bizz, marco do jornalismo musical brasileiro, e descobriu novidades vindas de Brasília (como Raimundos) e Pernambuco (todo o movimento conhecido como manguebeat). Miranda contou, certa vez, à reportagem, que, como repórter da revista, acompanhou as gravações do disco Titanomaquia, dos Titãs. “Eu levava sempre comigo uma malinha cheia de demos, com coisas do Planet Hemp, Chico Science & Nação Zumbi e Raimundos. Foi assim que os Titãs conheceram os Raimundos e toparam a ideia de, juntos, montarmos o selo Banguela Records.”
Simpático e bonachão, Miranda trabalhou com outras bandas importantes do cenário do rock nacional, como Skank e O Rappa. Embora tenha lançado discos de Mundo Livre S/A, Little Quail and The Mad Birds, Kleiderman (banda formada por Sérgio Britto e Branco Mello), Maskavo Roots e Graforréia Xilarmônica, o selo Banguela Records ficou marcado mesmo pelo álbum homônimo dos Raimundos, de 1994. A história do selo, aliás, foi resgatada no documentário Sem Dentes: Banguela Records e a Turma de 94 (2015), dirigido por Ricardo Alexandre.
De sua cabeça, encontros como os de Fresno e Chitãozinho e Xororó e Charlie Brown Jr. e Vanessa da Mata foram materializados. “Véio, eu te digo que o Calypso é a banda mais menosprezada do Brasil. Tanto artisticamente como na forma em que os dois (Joelma e Chimbinha) levaram a história da banda até agora. Já falei pro Chimba algumas vezes que ele deveria lançar um livro.”
Miranda criticava o que chamava de “ditadura do não incômodo”. “Quem toca em rádio já faz CD pensando nisso ou tem as características do pop. O que não é crime. O Skank, por exemplo, não tem distorções e é bem legal”, disse. O disco de estreia dos Raimundos, lançado em 1994 e que ele produziu, trouxe no repertório uma versão acústica da canção Selim.
No mesmo álbum, já havia a gravação original, com guitarra. Foi uma espécie de resposta a uma gravadora que, quando procurada pela banda, exigiu que tirassem os palavrões das letras e diminuíssem as guitarras. “Botei essa música de zoeira no disco. Nada elaborado, para encher linguiça. E acabou sendo a mais tocada nas rádios”, lembrou.
Colecionador
Conhecido também como o jurado barbudo do programa Astros (ex-Ídolos), do SBT, ele se enquadrava no perfil dos chamados Kidults (mistura em inglês das palavras criança e adultos). Nesse time, se encaixam todos aqueles que cultivam hábitos nada maduros, como colecionar bichinhos de pelúcia, passar horas jogando Playstation e vestir-se com estampas de personagens dos quadrinhos.
Miranda tinha uma justificativa para suas coleções de bonequinhos, CDs, videogames e bugigangas. “Na minha vida, eu sempre somei, nunca subtraí nada. Tudo aquilo que cultivei de bacana na infância e na adolescência trago comigo até hoje”, explicou. Sempre vestindo bermuda, chinelo e camisa florida, ele dizia achar normal que as pessoas mais velhas o olhassem com certa reticência. “Elas não sabem que gosto de um bom vinho, de comer bem também. Me visto dessa maneira porque acho confortável. Sou assim desde criança. E os maiores picaretas não usam gravata?”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.