Das cabeças que não são desse mundo, David Byrne aparece solitário no palco, com um cérebro nas mãos. Canta Here já mostrando que com ele será diferente. A festa vai chegar, mas seu bilhete de entrada é o pensamento e a contestação.
Aos 65 anos, Byrne trouxe ao Lollapalooza as criações de seu disco ainda quente, American Utopia, o braço musical do projeto multimídia Reasons To be Cheerful (Razões para ser Otimista). Além de canções de sua investida mais importante, o grupo inglês Talking Heads, que ele liderou entre 1975 e 1991.
Ele havia avisado que os corpos dos integrantes de sua banda seriam o próprio cenário, e assim foi. Byrne e seus músicos dançam o tempo todo em passinhos dois pra lá dois pra cá.
Byrne e seus movimentos robotizados (como Arnaldo Antunes adaptaria aos Titãs) compactuam com um rock industrial que ele segue fazendo mesmo três décadas depois dos Talking Heads. Está o tempo todo de terno cinza e descalço, assim como seus sete músicos (não deve ser uma profissão fácil ser músico de Byrne).
Um problema do palco Onix da edição passada voltou a ocorrer. Como não há torres de caixas de som avançadas na plateia, o público das regiões mais distante recebem um resíduo de som magro e sem qualidade. Para receber o som definido, é preciso enfrentar a multidão na parte de baixo, no vale. O Rock in Rio soube lidar melhor com esse problema e deslocou PAs para toda a pista.
Byrne tocou por muito tempo músicas menos conhecidas, sobretudo do disco novo. Houve alguma dispersão de sua plateia, que esperava por algum hit. Ele havia dito que não tocaria Psycho Killer, por não ter mais identificação musical com o maior sucesso dos Heads.
Algo mais reconhecível, apesar de destacar outras músicas do Talking Heads durante o show, veio já perto do final, com Burning Down The House, com os muitos caminhando em círculo pelo palco. Psycho Killer, conforme prometeu, não faz mais parte de seus planos.