Cidades

Cadê o dinheiro das enchentes?

As cidades paulistas de Salesópolis é Poá vivem situações distintas no que se refere ao uso de suas águas. A primeira é conhecida nacionalmente como o berço do Tietê, rio que corta a capital e possui mais de 1.100 quilômetros de extensão.


Já a segunda possui fontes de água mineral reconhecidas em todo o Estado. Curiosamente, ambas sofrem com a força das chuvas a cada nova temporada, o que soa como  ironia devido aos recursos hídricos de que dispõem. O pior é que não estão sozinhas nesse barco. Segundo o Mapeamento de Áreas de Risco da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, 35 municípios no Estado localizam-se em regiões de risco de grandes enchentes.


Salesópolis e Poá têm a companhia de outros nove municípios ameaçados pelas chuvas na região metropolitana de São Paulo, como Francisco Morato, Rio Grande da Serra, Diadema, Mauá, Caieiras, Cajamar, Itapevi, Franco da Rocha e Cotia. Embora as enchentes sejam conseqüência de particularidades geográficas, as cidades possuem em comum uma sensação de abandono perante o governo estadual.


Às vésperas da temporada de chuvas, elas têm recebido pouca, ou quase nenhuma atenção das autoridades, mesmo com dinheiro em caixa para a realização de uma série de benfeitorias. Prova disso é que o governo José Serra investiu 61% menos que seu antecessor nessa área nos primeiros nove meses desse ano em comparação com o mesmo período do ano passado – R$ 125,9 milhões contra R$ 49,1 milhões em todo o Estado.


Na Região Metropolitana, esse índice é ainda pior, sendo 62% menor. Dessa forma, pode-se imaginar que se está deixando de fazer uma série de trabalhos no que diz respeito à construção de piscinões, desassoreamento e conservação de rios, além da manutenção de obras e operação de estruturas hidráulicas. A Bacia do Alto Tietê recebeu de Serra investimentos da ordem de R$ 26,3 milhões, contra R$ 68,9 milhões de Alckmin, o que também pode dar a falsa impressão de que o ex-governador vinha fazendo um bom trabalho no combate às enchentes. Pois não fez.


Alckmin, como outros governantes que passaram pelo Palácio dos Bandeirantes, despejou bilhões para rebaixar a calha do Tietê na Capital, embora tenha demonstrado mais preocupação em plantar árvores para embelezar a Marginal. Ocorre que assim que deixou o governo, nada mais foi feito naquele local, repetindo o erro de outros governos. Sem manutenção, o rebaixamento da calha não terá efeito por muito tempo. José Serra não investiu mais um único centavo do Estado no local. Pelo jeito, vai esperar a chuva voltar a inundar as pistas da movimentada avenida para agir.


E não falta dinheiro para fazer alguma coisa no Tietê e nas demais cidades do Estado. Só a Assembléia Legislativa disponibilizou R$ 85 milhões ao Estado para aplicação no combate às enchentes. Isso está no orçamento aprovado em 2007, mas até agora somente 58% desses recursos foram utilizados. Eu queria entender o porquê desse descaso a apenas dois meses do período de chuvas fortes.


Quando se comenta em privatizar a Sabesp, e entregar a água a investidores, o governo Serra age rapidamente. Deveria se utilizar dessa disposição para amenizar os impactos dos transbordamentos cantados em verso e prosa pelos moradores de regiões de risco a cada nova estação. Mais que isso, poderia utilizar parte do dinheiro que não gasta para pagar indenizações a quem perde os eletrodomésticos e roupas a cada nova enxurrada.


Particularmente, acredito que os 35 municípios localizados em áreas monitoradas pela Defesa Civil deveriam se unir para cobrar medidas urgentes do Palácio do Planalto. Salesópolis e Poá poderiam puxar essa fila. E incluir outras cidades na lista, como Guarulhos, Osasco, Santos, Mogi das Cruzes, entre outros importantes centros.


Há dinheiro de sobra, mas falta de disposição para resolver o problema. Na verdade, o crescimento e o desenvolvimento da economia brasileira deveriam servir como estímulo para os investimentos em infra-estrutura. O Estado deveria aproveitar esses recursos para levar outras melhorias aos cidadãos, sobretudo àqueles que vivem nas camadas mais pobres da população.


 Sebastião Almeida é deputado estadual pelo PT, coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Água e presidente da comissão de Serviços e Obras Públicas da Assembléia Legislativa de São Paulo. E-mail: [email protected]

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