Prestes a embarcar na turnê americana que vai lhe consagrar de vez nos Estados Unidos, o cantor Khalid arranjou tempo na agenda para vir à América do Sul e apresentar os sucessos de “American Teen”, seu disco de 2017 que figurou em todas as listas respeitáveis de melhores do ano.
Com 20 anos recém completos, a nova estrela do R&B americano está em plena ascensão: ele foi um dos maiores destaques do SXSW, festival americano que reúne o cool da música dos EUA, agora em março, em Austin.
Essa foi, portanto, uma oportunidade rara de testemunhar um artista daquele país no auge de uma carreira que apesar de estar no início ainda deve render muitos números astronômicos – sem por isso sacrificar questões estéticas muito particulares.
Ao contrário de outras grandes estrelas da black music americana, Khalid não parece botar muito esforço na sua performance vocal – seu grande mérito é justamente transformar a aparente falta de esforço em hits dançáveis e memoráveis, como comprovou grande parte da plateia que cantou com ele os sucessos do disco, seu primeiro trabalho gravado, que lhe rendeu cinco indicações ao Grammy, inclusive na categoria de melhor novo artista.
“Agora eu vou cantar uma música que é triste pra c*, tudo bem por vocês?”, diz, antes de “Another Sad Love Song”.
Ele tocou no Palco Onix, que tem a frente de si uma enorme ladeira no Autódromo – e enquanto ela permite uma visão privilegiada mesmo de quem fica muito longe, o festival tem que pensar em como resolver as lacunas acústicas que se formam entre as caixas de som mais afastadas do palco.
Uma timidez perceptível transparece quando ele introduz cada música: “essa é a primeira canção que eu escrevi”; “essa se chama Cold Blooded, espero que vocês gostem”; “essa é uma das minhas favoritas”, diz, em diferentes momentos.
As qualidades de sofrimento adolescente variam ao longo do show, da turnê que ele nomeou Roxy, em homenagem a uma cachorra que ele adotou recentemente e que depois de problemas de saúde, morreu nos últimos dias. “Estou completamente de coração partido”, escreveu no Twitter. Ele dedicou a canção “Angels” para ela.
“Essa música mudou a minha vida”, ele diz antes de “Location”, sintomaticamente uma canção sobre um relacionamento inspirado por um aplicativo. E depois ele encerra o show com uma espécie de hino super contemporânea desse 2018: “Young, Dumb and Broke” (jovem, bobo e sem dinheiro).
O lance do coração partido (misturado com aquele drama adolescente igualmente apaixonante e choroso) é a impressão que fica depois de um show dele – mesmo que ele não tivesse falado a frase com todas as palavras.