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Battisti x Cacciola

A repercussão provocada pela soltura do italiano Cesare Battisti expôs de forma contundente a partidarização de uma parcela importante da mídia de nosso País. Esse fenômeno é perceptível desde o primeiro mandato do governo Lula, e se agravou consideravelmente nas últimas eleições, pela utilização de métodos pouco éticos na obtenção de informações e em sua divulgação ao público.


O jornalismo brasileiro é repleto de grandes serviços prestados ao País, principalmente depois da ditadura militar, quando teve um papel decisivo no processo de redemocratização e na luta pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor. O acompanhamento e a fiscalização de ações dos agentes públicos conferiram à a imprensa um status impensável nos anos de chumbo, de “4º Poder” da República.


Nos últimos tempos, porém, temos visto a destruição de reputações por matérias jornalísticas sem respeito ao benefício da dúvida ou ao direito à ampla defesa, garantidos pela lei. Assim, pessoas são expostas a julgamentos públicos impiedosos. É o caso de Battisti.


Há anos, o italiano renega ações de terrorismo em seu País, uma vez que foi julgado à revelia, em um processo com graves contradições, delações premiadas e até com alterações de última hora em leis para incriminá-lo. Ocorre que virou o principal alvo da direita italiana, comandada por Silvio Berlusconi, poderoso primeiro-ministro e dono de um império das comunicações.


Os argumentos de Battisti foram ignorados na mídia brasileira, que encampou a tese do “terrorismo” dos italianos, condenando as decisões do Governo Lula e do Supremo Tribunal Federal de negar a extradição do ativista. Ficou clara a ideologização da cobertura, inclusive com editoriais defendendo a soberania do governo italiano, em detrimento da nossa.


Outros casos semelhantes tiveram tratamento diferente, como o do banqueiro Salvatore Cacciola, que fugiu para a Itália depois de ser condenado pela Justiça brasileira por peculato e gestão fraudulenta no Banco Marka. O Brasil pediu sua extradição à Justiça italiana, e nunca conseguiu trazê-lo de volta. Naquela época, a mídia defendia que a soberania da Itália deveria ser respeitada.


São comuns casos em que diferentes pesos e medidas são usados, sem a isenção esperada do jornalismo ético e sério. Os veículos têm liberdade de expressar suas opiniões, desde que deixem isso claro. Escamotear ideologias é um comportamento que não combina com os novos tempos de liberdade de expressão. No futuro, delitos de informação poderão se voltar contra os próprios infratores.


 


José Luiz Guimarães


Vereador (PT) e líder do Governo na Câmara. Escreve às quintas-feiras nesta coluna

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