Variedades

A geração que deu certo

Ao entrarmos na sala expositiva principal da Casa Triângulo, há um certo tom futurista no ar. “Acho que todos os trabalhos tem um ar sci-fi”, comenta o artista paulistano Rodolpho Parigi, que, aos 40 anos, faz a primeira exposição individual em sua nova galeria, após uma década sendo representado pela marchande Nara Roesler.

“Dez anos é muita coisa. Precisava de novas relações, novos desafios”, conta ele, um darling do circuito de São Paulo e que, ao mesmo tempo, pode festejar os dez anos da aparição bombástica no meio, com outros sete amigos pintores, no que ficou conhecido como o coletivo 2000e8. Numa continuação rara, sete deles tem participação destacada tanto em mostras institucionais como em galerias – Marcos Brias mudou para a Alemanha e se dedica à literatura.

“Desde o início, a pintura de Rodolpho Parigi é algo difícil de descrever.
Entre figurativa e abstrata, ou as duas juntas, apresentam-se aos olhos de maneira estridente, com superfícies hiperativas, vibrantes, desafiando qualquer perspectiva e não oferecendo descanso ao olhar”, escreve Ivo Mesquita (ex-Bienal de São Paulo e Pinacoteca do Estado), que assina o texto crítico a respeito de Sem Título, a individual de Parigi.

Na sala maior, duas grandes telas dominam o espaço – La Danse, de 2,90 m x 5 m, tomou cinco meses de trabalho no ateliê de Parigi, na Aclimação. A outra, The Song of Love, de 2 m x 5,56 m, teve um pouco menos de dedicação, quatro meses. Em ambas, há fragmentos, sobreposições, figuras pouco reconhecíveis, camadas. E muita estranheza.

“São dois trabalhos com muita discussão pictórica. Lidar com o óleo, fazer os fundos, não estar satisfeito com resultados rápidos, as influências de Picasso e De Chirico, entre outros, para iniciar a composição”, diz o artista. “Agora estou numa fase em que fiquei satisfeito com os resultados, que demoraram mais”, conta.

Além das pinturas de grande dimensão, há uma série de “entranhas”, em que o artista explora um tratamento mais planificado às superfícies e cores de escala mais “artificial”, como Violet Volumen; aquarelas sobre papel, também de tamanhos generosos, como Kusama Wig; e peças mais monocromáticas, como a já exibida série Black Nanquim Bestiaire, esta colocada na sala menor da Casa Triângulo.

Em grupo

Não formam um grupo, no sentido de possuírem objetivos previamente traçados, mas amigos e interlocutores buscando afinidades e afinando as diferenças”, escreveu Paulo Pasta, mentor de grupo, à época, em 2008. Ex-professor de pintura na Faap, ajudou a colocar na rota do mercado e dos centros culturais novamente, com força, a pintura contemporânea. “Só posso dizer que muito me orgulho de todos. Revelaram-se profissionais sérios, artistas muito competentes e talentosos, vindo de fato a tornarem-se a nova e mais expressiva geração de pintores atuantes”, afirma Pasta hoje.

“Não era um coletivo como outros, de autoria compartilhada etc. Nos unimos para mostrar os trabalhos, éramos amigos de faculdade”, avalia Rodrigo Bivar, 37 anos, que ganhará no mês que vem nova individual na galeria Millan. Bivar mudou bastante dos anos iniciais e hoje opta pela abstração. “É uma pintura mais direta, menos narrativa e até com um leve humor, que havia no início da minha produção.”

Regina Parra, 37 anos, talvez seja a que tenha uma produção mais multidisciplinar, com obras em vídeo e tridimensional, entre outros suportes. “Mesmo nos meus trabalhos mais iniciais, já apontava para uma conversa com outras linguagens. Acho que sempre duvidei da ideia de pureza na pintura (ou em qualquer outra linguagem).”

Regina e Parigi coordenam um grupo de estudos exclusivo para pintura, com 30 participantes. “Tem me renovado muito e sido essencial”, diz Parigi. “É um exercício constante de questionamento e provocação. Quando nós levantamos questões sobre os trabalhos dos alunos, parte desse questionamento acaba sendo para nós mesmos. Como se nos colocássemos em dúvida o tempo todo”, afirma Regina, artista representada pela Millan.

Para Bruno Dunley, 33 anos, representado pela Nara Roesler, o momento atual é de otimismo. “A pintura na São Paulo de 2018 é mais plural e encarada com muita vitalidade, talvez justamente pelo fato de existir mais gente pintando. Internet e Instagram também são fenômenos e ferramentas que influenciam muito toda essa pintura”, avalia ele.

Ana Elisa Egreja, 34 anos, da Leme, pode ser a considerada mais “fiel” ao suporte. “Minha pesquisa seguiu bem linear nesses anos. Até hoje pinto temas que me interessavam desde as primeiras telas, como interiores e naturezas-mortas”, conta ela. “Mas fui ficando cada vez mais exigente com a representação na pintura. Nos meus últimos trabalhos, montei todos os cenários nos ambientes para depois pintá-los.” E Renata de Bonis, 33 anos, continua a pintar, mas tem desdobrado a produção por objetos e esculturas. Alguns deles podem ser vistos na SP-Arte, no estande da galeria Marilia Razuk.

RODOLPHO PARIGI
Casa Triângulo.
Rua Estados Unidos, 1.324,
telefone 3167-5621. 2ª a sáb., 10h/19h. Até 12/5.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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